Reportagem
diz se basear em declarações de Marcos Valério
Dinheiro total movimentado pelo esquema teria chegado a R$ 350
milhões
Do ponto de vista jurídico, o
efeito pode ser nulo. O processo do mensalão está em fase de julgamento e não
serão mais acrescentadas provas. Do ponto de vista político, a reportagem da
revista “Veja” desta semana pode ter grande impacto na reta final das eleições
municipais, sobretudo nas grandes cidades nas quais o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva tem interesse direto, junto com o PT, em garantir vitórias para
alavancar a sigla em 2014.
Entre outras, eis algumas das
informações divulgadas por “Veja”:
1) “O caixa do PT foi de R$ 350 milhões” – o valor anotado no processo formal é de
R$ 55 milhões. Mas Marcos Valério afirmaria que esse montante seria
subestimado. O caixa total do mensalão seria bem maior: “Da SMP&B [uma de suas agências de
publicidade] vão achar só os 55 milhões, mas o caixa era muito
maior. O caixa do PT foi de 350 milhões de reais, com dinheiro de outras
empresas que nada tinham a ver com a SMP&B nem com a DNA”.
2) Lula seria o chefe, junto com José Dirceu:
segundo informação que “Veja” atribui a Marcos Valério, empresários se reuniram
em várias ocasiões com o então presidente da República para combinar
contribuições não declaradas ao PT. A contabilidade informal ficava com o então
tesoureiro do partido, Delúbio Soares.
Frase em “Veja” atribuída a
Valério: “Dirceu era o braço direito do Lula, um braço que comandava”.
3) Valério e Lula no Palácio do Planalto: Outra
frase em “Veja” atribuída a Valério: “Do Zé [Dirceu] ao Lula era só descer a
escada. Isso se faz sem marcar. Ele dizia vamos lá embaixo, vamos”. Trata-se de
referência à confirguração das salas no Palácio do Planalto.
E mais: “Não podem condenar
apenas os mequetrefes. Só não sobrou para o Lula porque eu, o Delúbio e o Zé
não falamos”.
4) Contato era Paulo Okamotto: outra
frase atribuída a Valério: “Eu não falo com todo mundo no PT. O meu contato com
o PT era o Paulo Okamotto”. E mais: “O papel dele era tentar me acalmar”.
Okamotto é um amigo antigo de Lula, que hoje trabalha com o ex-presidente no
Instituto Lula.
Segundo a reportagem, quando
Valério foi preso uma vez pós-mensalão, a mulher do publicitário, Renilda
Santiago, foi a São Paulo para falar com Okamotto e pedir que dessem um jeito
de soltar o marido. Okamotto teria reagido de maneira brusca, segundo relato
atribuído a Valério: “Ele deu um safanão na minha esposa. Ela foi correndo para
o banheiro, chorando.”
5) Delúbio dormia no Palácio da Alvorada: frase
atribuída por “Veja” a Valério: “O Delúbio dormia no Alvorada. Ele e a mulher
dele iam jogar baralho com Lula à noite. Alguma vez isso ficou registrado lá
dentro? Quando você quer encontrar (alguém), você encontra, e sem registro”.
6) Dinheiro do Rural teve aval de Lula e de Dirceu: mais
Valério, segundo a revista: “O banco ia emprestar dinheiro para uma agência
quebrada?”. Segundo a reportagem, a decisão do Banco Rural de dar dinheiro
emprestado ao PT teria sido um favor direto ao governo Lula. “Você acha que
chegou lá o Marcos Valério com duas agências quebradas e pediu: ‘Me empresta aí
30 milhões de reais pra eu dar pro PT’? O que um dono de banco ia responder?”.
Sobre José Augusto Dumont (morto em 2004), que presidiu o Rural, “Veja” diz que
Valério falou: “O Zé Augusto, que não era bobo, falou assim: ‘Pra você eu não
empresto’. Eu respondi: ‘Vai lá e conversa com o Delúbio’ (…) Se você é um
banqueiro, você nega um pedido do presidente da República?”
Em resumo, a reportagem da revista “Veja” fala que teve acesso a “revelações de
parentes, amigos e associados” de Marcos Valério, o empresário e publicitário
que teria sido o operador do esquema do mensalão, descoberto em 2005.
Segundo a revista, “o
publicitário começa a revelar os segredos que guardava –entre eles, o fato de
que o ex-presidente sabia do esquema de corrupção armado no coração do seu
governo”. Esse foi sempre um dos grandes pontos de interrogação do mensalão:
Lula sabia ou não sabia? Ao final, o ex-presidente acabou sendo poupado e não
foi incluído como réu na denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da
República.
Marcos Valério é um dos réus e
o que deve pegar o maior número de anos de prisão pelos delitos cometidos.
“Veja” faz uma conta e afirma que os crimes de lavagem de dinheiro, corrupção
ativa e peculato, evasão de divisas e formação de quadrilha podem dar a Valério
mais de 100 anos de reclusão.
A revista colocou um trecho da reportagem em seu site.