MANAUS – O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), decidiu
reduzir o número de sete refeições distribuídas nas escolas por dia para apenas
três sob a justificativa de que a quantidade anterior estava gerando
“desperdício” de comida e causando “prejuízo” no aprendizado dos alunos “por
conta do tempo que ficavam fora da sala de aula durante as refeições”. A
informação da mudança é da Semed (Secretaria Municipal de Educação).
A redução da merenda nas escolas veio à tona após o AMAZONAS ATUAL questionar
a secretaria sobre reclamações de gestores escolares e pais de alunos de que os
estudantes estavam sendo obrigadas a levar comida de casa para garantir o
lanche nos intervalos das aulas em três escolas da zona leste de Manaus:
escolas municipais Rosa Sverner (no bairro Jorge Teixeira), Honorina
Vasconcelos (no bairro São José) e Jorge Rezende Sobrinho (no bairro Tancredo
Neves).
No ano em que assumiu o mandato, o prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB)
lançou, no dia 8 de março de 2013, o novo Programa Alimentar da Semed, que
daria, segundo ele, direito ao aluno de receber pelo menos duas refeições a
cada turno de aula e a escola seria obrigada a entregar sete refeições aos
estudantes nos três turnos, como o café da manhã, merenda, almoço, merenda,
lanche e jantar.
À época, o prefeito disse que ia gastar R$ 24 milhões durante os nove
meses do ano de 2013 com a merenda nas escolas, dinheiro oriundo do FNDE (Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação), vinculado ao Ministério da Educação
(MEC).
Durante o lançamento do Programa Alimentar, Arthur e o então
secretário da Semed, Pauderney Avelino, hoje deputado federal pelo DEM,
chamaram a imprensa para dizer que a entrega de sete refeições ao dia nas
escolas tinha o “objetivo de estimular bons hábitos alimentares e o
desenvolvimento, educação e a saúde em todos os alunos da rede municipal de
ensino”.
Pauderney Avelino também afirmou, à época, que a Semed viveria
novos tempos. “Iniciamos o ano letivo sob o signo da mudança, uma mudança de
conceitos. Essas ações são a espinha dorsal de nossa gestão e com elas iremos
reduzir o vergonhoso percentual de evasão escolar”, afirmou o
ex-secretário.
Falta comida
Hoje, a realidade da merenda escolar nas escolas de Manaus é bem
diferente da prometida pelo prefeito Arthur Virgílio Neto e o ex-secretário de
Educação Pauderney Avelino há pouco mais de dois anos. Nas escolas da zona
leste, uma região onde o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é dos menores
da capital (0,455 em uma escala de 0 a 1), não há merenda em nenhum turno
das aulas.
“Infelizmente, muitas crianças vêm à escola com a esperança de ter
acesso a pelo menos uma refeição no dia e, hoje, somos obrigados a orientá-los
a trazer comida de casa. Alguns alunos até deixaram de ir para a escola”,
disse uma professora da Escola Municipal Jorge Rezende Sobrinho, no Tancredo
Neves.
Na Escola Municipal Honorina Vasconcelos do São José, os alunos tentam
se solidarizar com os colegas que não têm condições de comprar o próprio
lanche. “Sempre orientamos os alunos a dividirem com o coleguinha a refeição
que é trazida de casa. Se um traz um pacote de bolacha, esse pacote, muitas
vezes, é dividido com mais duas crianças”, afirmou a professora da escola, que
não quis ter seu nome divulgado.
Merenda programada
A Semed, por meio de nota, informou que faz a distribuição da
merenda escolar quinzenalmente e as escolas municipais Rosa Sverner,
Honorina Vasconcelos e Jorge de Resende Sobrinho já estavam incluídas na
programação de entrega da próxima segunda-feira (8).
Sobre a redução da merenda escolar, a secretaria informou que, hoje, as
escolas distribuem três refeições ao estudante: às 9h (merenda), às
15h (merenda) e às 19h (jantar para os alunos do noturno).
Ainda de acordo com a nota da secretaria, a mudança no número de
refeições nas escolas foi feita, no início de 2014, com a participação do
Comitê de Gestores de todas as Divisões Distritais Zonais (DDZs)
da Semed após a constatação “do alto desperdício de alimentos e do
prejuízo pedagógico aos estudantes, por conta do tempo que ficavam fora da
sala de aula durante todas as refeições”.
Este ano, o município orçou R$ 40 milhões para serem destinados à
merenda escolar, informou a Semed. O valor equivale a um custo diário de
R$ 0,88 por aluno, considerando os 200 dias letivos e os 227 mil
estudantes da rede.
A merenda escolar nas escolas municipais de Manaus, segundo a Secretaria
Municipal de Educação, é composta por mais de 40 itens, sendo 20
básicos, como feijão, arroz, macarrão, bolacha, achocolatados, carne,
frango, dentre outros; e 28 oriundos da agricultura familiar, como
frutas, verduras, legumes, de acordo com a sazonalidade.
Fonte: http://amazonasatual.com.br/prefeito-arthur-virgilio-reduz-a-merenda-em-escolas-municipais-para-evitar-desperdicio/