Documentos
obtidos pelo Jornal Nacional mostram que o dono da construtora UTC, Ricardo
Pessoa, deu uma extensa lista de nomes de políticos que podem ter recebido
doações de campanha com dinheiro ilícito.
São
casos de caixa dois e também de doações legais e contabilizadas. Os documentos
fazem parte da delação premiada que o empresário celebrou com a Justiça.
Ricardo
Pessoa é apontado pelas investigações da Operação Lava Jato como o chefe do
clube de empreiteiras que fraudava negócios com a Petrobras.
Segundo
o delator Júlio Camargo, cabia à Pessoa realizar encontros entre donos e
diretores das empresas. Nessas reuniões, de acordo com os investigadores, eles
combinavam preços superfaturados para apresentar em licitações da estatal.
As doações feitas por
Ricardo Pessoa constam em tabelas, na quais ele controlava as doações feitas a
políticos. As tabelas mostram nomes de políticos de vários partidos. Não há
como separar quais foram legais e quais eram de caixa dois. Ricardo Pessoa
falou ao Ministério Público Federal que as doações lhe davam destaque e
poder.
As
quantias destinadas aos políticos tinham diversos propósitos, todos com um
objetivo comum: manter os negócios da UTC funcionando.
A
delação de Ricardo Pessoa já foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Agora, a investigação vai
apurar se as denúncias do empreiteiro têm fundamento e se ele poderá ter
direito aos benefícios da delação. Preso em 2014, na sétima fase da Lava Jato,
o empreiteiro cumpre prisão domiciliar desde que se propôs a contar o que
sabia.
Lula
Sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o documento cita que foram repassados R$ 2,4 milhões para a campanha dele. Pessoa afirmou ainda que encontrou o ex-presidente em sete oportunidades. Contudo, não afirmou com certeza se Lula sabia da origem ilícita do dinheiro.
Sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o documento cita que foram repassados R$ 2,4 milhões para a campanha dele. Pessoa afirmou ainda que encontrou o ex-presidente em sete oportunidades. Contudo, não afirmou com certeza se Lula sabia da origem ilícita do dinheiro.
A
assessoria do ex-presidente Lula declarou que não tem conhecimento dos
documentos citados na reportagem e alega que houve um vazamento seletivo e
talvez ilegal do conteúdo da delação. Por essa razão, o ex-presidente prefere
não se manifestar.
Em
alguns casos, Ricardo Pessoa detalhou como e por que fez os pagamentos aos
políticos. No caso de Zeca Dirceu, por exemplo, o empreiteiro disse que fez uma
doação legal à campanha dele, em 2010, no valor de R$ 100 mil. Segundo Pessoa,
a quantia foi pedida por José Dirceu.
Nos
depoimentos, o empreiteiro disse ainda que fez pagamentos à empresa de Dirceu,
a JD Consultoria, “Apenas e tão somente em razão de se tratar de José Dirceu e
da sua grande influência no Partido dos Trabalhadores”. Pessoa disse que saber
o ex-ministro não tinha como trabalhar nos contratos firmados entre a UTC e a
Petrobras, já que estava preso na época em que destinou cerca de R$ 3 milhões à
JD.
A
defesa do ex-ministro José Dirceu negou que ele tenha recebido pagamentos
ilícitos. Disse que prestou serviços para a UTC e que as cópias dos contratos e
das notas fiscais foram encaminhados à Justiça Federal do Paraná em janeiro
deste ano.
Em
uma das tabelas, estão detalhados os pagamentos feitos ao PT. Segundo o
empresário, o partido recebeu, entre 2006 e 2014, R$ 16,6 milhões da UTC. Esse
valor não conta dos repasses feitos a campanhas presidenciais do partido. Em um
dos documentos, aparece o contato de Manoel Araújo, chefe de gabinete do
ministro das Comunicações Edinho Silva, responsável pela arrecadação da
campanha da presidente Dilma Roussef à reeleição.
O
ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, afirmou que todas as doações
foram feitas de acordo com a legislação eleitoral. Ele lembrou que o chefe de
gabinete, Manoel Araújo, foi responsável pela parte burocrática das doações recebidas
em 2014.
PT e João Vaccari Neto
Ricardo
Pessoa ainda falou da relação que mantinha com o ex-tesoureiro do PT, João
Vaccari Neto. Em uma tabela específica, ele disse que encaminhou R$ 16,6
milhões ao partido, a pedido de Vaccari. No documento ele explica que os
pagamentos foram feitos "diretamente na conta do partido, desvinculado da
época de campanha e que igualmente tinha relação com os pagamentos da Petrobras.
A
defesa do ex-tesoureiro disse que fazia parte das atribuições de Vaccari pedir
dinheiro para o partido. Contudo, eles alegam que as doações recebidas por João
Vaccari eram legais e foram informadas às autoridades.
PP
O empreiteiro também relatou repasses feitos ao PP, a pedido do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, preso na Operação Lava Jato. Conforme o empresário, os valores eram pagos para evitar problemas nos contratos que mantinha com a estatal. O PP diz que as doações recebidas pelo partido foram legais e declaradas à Justiça Eleitoral. O senador Ciro Nogueira, do PP, disse que não recebeu doações da UTC e que confia na Justiça para que a verdade seja revelada.
O empreiteiro também relatou repasses feitos ao PP, a pedido do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, preso na Operação Lava Jato. Conforme o empresário, os valores eram pagos para evitar problemas nos contratos que mantinha com a estatal. O PP diz que as doações recebidas pelo partido foram legais e declaradas à Justiça Eleitoral. O senador Ciro Nogueira, do PP, disse que não recebeu doações da UTC e que confia na Justiça para que a verdade seja revelada.
Valdemar Costa Neto
Pessoa
afirmou ainda aos procuradores que pagou R$ 500 mil ao ex-deputado Valdemar
Costa Neto (PR), condenado no mensalão. Os valores foram para manter boas
relações com o Ministério dos Transportes, controlado pelo PR à época dos
pagamentos.
Segundo
o empresário, parte do valor, R$ 200 mil, foram entregues a Costa Neto em
dinheiro vivo, sem contabilidade oficial. O restante foi pago como doação de
campanha. Pessoa disse também que nunca houve contra-prestação por parte do
ministério. O ex-deputado foi procurado, mas não quis comentar as denúncias.