BRASIL - Às vésperas da
campanha de 2014, Eduardo Cunha começou a fazer mais barulho como
líder do PMDB na Câmara dos Deputados do que a oposição. O estilo de fazer
política e os traços físicos renderam a ele um apelido no círculo íntimo da
presidente Dilma Rousseff – “Meu Malvado Favorito”. Passado quase um ano das eleições,
o jogo de gato e rato entre Cunha e Dilma chega ao clímax com riscos fatais
para ambos.
Está nas mãos do presidente da Câmara iniciar o
processo que pode levar ao impeachment da petista. Por outro lado, o PT e o
resto da base governista que ainda dialoga com o Planalto são decisivos para o
andamento da denúncia por quebra de decoro que pode desencadear a cassação do
mandato do peemedebista. O duelo de nervos chega a um desfecho nesta semana.
Ele [Eduardo Cunha] não tem mais esse poder todo. A solução é ir para o
plenário, brigar pelo máximo de quórum e conseguir os 257 votos para impedir
esse absurdo [a abertura do processo de impeachment].
Ênio Verri (PT-PR), deputado.
Em acordo com os
três principais partidos da oposição (PSDB, DEM e PPS), Cunha sinaliza que
vai arquivar na terça-feira (13) o pedido de impeachment feito pelo advogado e
ex-petista Hélio Bicudo e assinado recentemente pelo ex-ministro da Justiça da
gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Miguel Reale Júnior. Dentre outros
argumentos, a denúncia por crime de responsabilidade cita as “pedaladas
fiscais” (uso indevido de recursos de bancos públicos para cobrir despesas de
programas do governo), condenadas por unanimidade pelo Tribunal de Contas da
União (TCU).
No mesmo dia, a bancada do PT tem reunião para
discutir a situação de Cunha, acuado pelas denúncias de que possui pelo menos
US$ 2,4 milhões em contas na Suíça. “Olha, nós estamos diante de tantos
problemas com as contas rejeitadas, a votação dos vetos e da aprovação do
pacote fiscal, que não dá para dizer que o Eduardo seja exatamente nossa
prioridade”, diz o deputado e presidente do PT no Paraná, Ênio Verri. Na
prática, porém, os petistas começam a fazer as contas de que pode ser melhor
encarar votações sobre o impeachment com Cunha desgastado no comando da Casa do
que deixar para depois.
A Câmara não é clínica de recuperação para investigado, não tem como
segurar as pontas de alguém [Cunha] com problemas éticos.
Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), deputado.
“Ele não tem mais esse poder todo. A solução é ir
para o plenário, brigar pelo máximo de quórum e conseguir os 257 votos para
impedir esse absurdo”, complementa Verri. A partir do arquivamento do pedido de
Bicudo por Cunha, qualquer parlamentar pode entrar com um recurso para tentar
reverter a decisão do presidente em plenário. A estratégia da oposição, em
articulação com Cunha, é justamente essa. A aprovação do recurso depende de
maioria simples – metade mais um dos presentes, a partir de um quórum mínimo de
257 deputados.
A decisão, porém, é apenas sobre a admissibilidade
do pedido. A abertura do processo de impeachment em si ainda dependeria de
apreciação em comissão especial e novamente em plenário, em votação que depende
de maioria de dois terços (votos de 342 deputados). Só então Dilma estaria
impedida de governar por 180 dias e o caso iria para julgamento final no
Senado.
Dois únicos remanescentes entre os paranaenses que
participaram da votação do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em
1992, Luiz Carlos Hauly (PSDB) e Rubens Bueno (PPS) divergem sobre a aliança da
oposição com Cunha. O tucano defende que o peemedebista deve ser afastado do
cargo com a comprovação das contas na Suíça, enquanto Bueno diz que o afastamento
só poderia ocorrer se ele fosse transformado em réu pelo Supremo Tribunal
Federal.
“A Câmara não é
clínica de recuperação para investigado, não tem como segurar as pontas de
alguém com problemas éticos por muito tempo. Pela minha experiência nessas duas
últimas décadas por aqui, os dois [Cunha e Dilma] são cartas fora do baralho, é
uma questão de tempo”, avalia Hauly, que assim como Bueno também votou pelo
afastamento de Collor, em 1992. Até o momento, no entanto, a oposição tem agido
como refém de Cunha, já que se ele não cumprir a promessa de rejeitar o pedido
de Bicudo e Reale, o processo não começa.
“Seria mais
coerente se a oposição apoiasse em peso todas as investigações”, diz Aliel
Machado, recém-filiado à independente Rede Sustentabilidade. Machado e Leopoldo
Meyer (PSB) foram os únicos dos paranaenses que apoiaram a representação contra
Cunha movida por 30 deputados de sete partidos, na semana passada. “Mas se você
for parar para pensar, o PT também é refém do Cunha, porque não enfrenta ele de
frente” , completa Machado.
e” ,
completa Machado.
Fonte: gazeta do povo