“Sem falsa modesta, esse preço [R$ 120 mil] é
irrisório, vou dizer para o senhor Dr. Moro”, afirmou o ex-ministro.
“Quero
aproveitar para declarar que estou sendo alvo de notícias, que eu enriqueci.
[Dizem] Que eu tenho um patrimônio de R$ 40 milhões. A minha empresa faturou R$
40 milhões, 85% são despesas, são custeios. Eu ganhei o que ganha qualquer
consultor ou advogado, R$ 60 mil, R$ 80 mil por mês.
O petista foi ouvido na ação que julga os
envolvidos na 17ª fase da Lava Jato, batizada de “Pixuleco”. Em quase três
horas, o ex-ministro se defendeu das acusações do Ministério Público Federal
que o aponta como um dos beneficiários do esquema de corrupção da Petrobras.
Dirceu é suspeito de ter recebido mais de R$ 11 milhões de propina através de
falsos contratos de consultoria. Ele explicou ao juiz que, além de emprestar
“seu nome e prestígio” às empresas, ele fazia panoramas políticos e econômicos
do Brasil e da América Latina.
“Não vou dizer para o senhor que fazia
relatórios, que eu dava um tipo de consultoria que eu não dava, porque eu vou
faltar com a verdade. Vou fazer um falso testemunho”, explicou o ex-ministro .
“Dei consultoria a 60 empresas nesses anos. Sempre mantive meus clientes
informados. Ou meus clientes me ouviam para saber de economia, politica,
mercado.”
Dirceu disse ainda que
durante o julgamento do mensalão sua vida financeira foi “devassada” pela
Receita Federal e que “praticamente” recebeu um “atestado de honestidade” do
órgão. O petista, contudo, admitiu ainda que errou ao aceitar favores do
lobista Milton Pascowitch, um dos operadores do esquema de pagamento de
propinas da Petrobras. O lobista teria pago reforma de sua casa no interior
paulista.
“Essa residência sofreu
uma devassa da Receita Federal por conta da ação penal 470 [mensalão] e todo o
meu imposto de renda anterior de cinco anos [foi investigado]. Recebi
praticamente um atestado de honestidade. Até 2006, Dr. Moro, eu vivia de
salário ou de funcionado da Assembleia de São Paulo ou de deputado, ou de
presidente do PT. Não tive outra renda.”
O ex-ministro citou o
depoimento do ex-presidente Lula à Lava Jato ao falar do seu papel na escolha
de Renato Duque para a Diretoria de Serviços da Petrobras, em 2002. Dirceu
disse que apenas avalizava nomes indicados por partidos da base aliada, por
ministros e pela equipe de transição.
“Não se pode dizer que
eu indiquei o senhor Renato Duque, mas também não se pode dizer que eu não tive
participação”, disse o ex-ministro. “Vou tomar com base o ex-depoimento do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No governo, a indicação, como em todo
governo, vem da base partidária do próprio governo, de ministros, parte da
equipe de transição, não é uma indicação exclusiva. Isso é uma composição
politica como ocorre nos Estados Unidos, Inglaterra e Portugal.”
Dirceu explicou a Moro que havia dois nomes
para a diretoria de Serviços e que ele apenas deu a palavra final. No dia 22 de
janeiro, o lobista Fernando Moura disse ao juiz que após a vitória do PT nas
eleições presidenciais de 2002, havia dois indicados à Diretoria de Serviços da
Petrobras. Duque, levado pelo então secretário do PT, Silvio Pereira, que
estaria na cota do diretório estadual do partido; e Irani Varella, indicado por
Delúbio, por recomendação de Dimas Toledo, que foi diretor de Furnas no governo
FH e seria ligado ao senador Aécio Neves (PSDB-MG).
“Simplesmente a
indicação decorreu porque setores do PSDB, não vou dizer que é o senador e
ex-governador Aécio Neves porque ele não conversou isso comigo e não pediu para
mim. O que eu estou dizendo é que a informação que me chegou é que havia uma
indicação do PSDB em Furnas, que é publica e notória em Minas Gerais e no país,
senhor Dimas Toledo. Não digo que é oficial do PSDB, mas é isso. A indicação de
Renato Duque permaneceu por causa desse motivo. Não porque houvesse alguma
preferência. Não havia nenhuma OBS (observação) profissional com relação ao
comportamento dele como cidadão.”
Na semana passada, na
saída da Justiça Federal, o advogado do ex-ministro Roberto Podval disse que o
petista admitiu ter recebido favores de investigados da Lava Jato. Segundo
Podval, Dirceu ainda teria ciência de que Pascowitch podia usar seu nome em
negociatas ilegais, mas negou ao juiz que fosse o mentor do esquema de
corrupção. A força-tarefa da Lava Jato sustenta que a JD Consultoria, empresa
do ex-ministro, era uma fachada para o recebimento de propinas de empreiteiras.
No total, Dirceu teria recebido R$ 11 milhões.
Dirceu admitiu ainda ter
usado um jatinho de outro lobista e delator, Júlio Camargo. Segundo Podval, ele
teria dito que “os aviões me foram cedidos. A vida inteira me foram cedidos”.
Fonte: gazeta do povo