BRASIL - Às
vésperas do julgamento do impeachment pelo Senado, a presidente afastada,
Dilma Rousseff, reclamou de ter sido "esquecida" pelos
organizadores dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, encerrados no último
domingo (21). Segundo Dilma, o evento ignorou tanto ela quanto o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A queixa foi feita durante ato
promovido nesta terça-feira (23), em São Paulo, pelas frentes "Brasil
Popular" e "Povo sem Medo", que reúnem movimentos sociais,
sindicais e políticos, entre outras organizações.
"Eu tenho certeza de que a coisa que o
presidente Lula mais se orgulha é do fato de o país ter passado de 23 para 13
(no ranking geral, conforme o número de medalhas). Esse é o ganho do nosso
povo. Eu fiquei muito orgulhosa", disse, para
completar:" "E do que eu tenho mais orgulho é que isso
beneficiou atletas. Não tenho nada contra atleta loiro, de olhos azuis e de
cabelo lindo, mas beneficiou os nossos atletas negros, mulheres, LGBT. Eu olhei
para os atletas e falei: é a nossa cara. É a cara do Brasil". Em seguida,
Dilma observou que nem ela, nem Lula foram lembrados durante os jogos, apesar
de articulação para que o Rio fosse sede dos jogos ter ocorrido durante o
governo do PT.
"Nem eu nem o
Lula [fomos lembrados]. A gente foi devidamente esquecido. Por quem? Por quem
vocês sabem por quem. Não posso deixar passar essa oportunidade. Acabou no
domingo e eu posso chegar hoje e falar. Sempre me perguntaram qual é a sua
reação: a minha reação é aquela que qualquer um aqui entenderá. Você pega e
organiza a festa, né? Arruma a casa. Contrata a melhoria das instalações da
casa. Arruma os móveis e, no dia da festa, te proíbem de entrar na casa",
comparou.
A ação, batizada
de "Ato contra o Golpe, em Defesa da Democracia e dos Direitos
Sociais", aconteceu na Casa de Portugal, no bairro da Liberdade,
região central de São Paulo, e teve como principal bandeira a oposição à
retirada de direitos sociais. Apesar de esperado, Lula não compareceu ao
evento, mas Dilma contou com a presença de Fernando Haddad (PT), prefeito de
São Paulo e candidato à reeleição, e Rui Falcão, presidente nacional do
PT. Artistas, intelectuais e políticos do PT também estiveram
presentes -- o mais tietado foi o ex-senador e candidato a vereador em São
Paulo Eduardo Suplicy, que se emocionou, em mais de uma ocasião, ao ler um
texto do jurista Dalmo Dallari com críticas enfáticas ao processo de
impeachment -- que, segundo Dallari, "afronta dispositivos constitucionais
claros e expressos".
O ex-presidente Getúlio Vargas -- que se
suicidou, em 1954, pressionado para renunciar ao cargo -- também foi lembrado por Dilma
no evento. Ela afirmou que não foi "obrigada a se suicidar, como obrigaram
Getúlio".
"Não
renunciei porque hoje temos espaço democrático. Eles não me obrigaram a me
suicidar, como obrigaram o Getúlio, e não fui obrigada a pegar um avião e ir
para o Uruguai, como fizeram com o Jango [ex-presidente João Goulart]",
afirmou a petista, para quem "a luta pela democracia não tem data para
terminar".
Haddad cita "momento negro da
história"
Para Haddad, a
presidente afastada é vítima de um golpe institucional. "A presidenta
Dilma, que já foi vítima de um golpe nos anos 60, é vítima de agora de uma
outra modalidade de golpe, um golpe institucional contra a Constituição",
disse. Segundo ele, o processo está sendo "forjado" por um crime de
responsabilidade que "nunca foi cometido".
O
prefeito acusou o governo Temer de abrir uma "agenda de intolerância
contra mulheres, comunidade LGBT e negros". O prefeito ainda criticou a
proposta do governo de Michel Temer (PMDB) de fixar um teto para os gastos
públicos conforme a inflação do ano anterior, conforme proposta encaminhada ao
Congresso Nacional. "Como vamos dizer aos brasileiros que esqueçam seus
direitos por 20 anos? Os nossos direitos estão sendo ceifados por uma confusão
que se estabeleceu, e ninguém diz as consequências do que está sendo aprovado
no Congresso Nacional. Presidenta, estamos aqui para defender uma causa que
remonta muito distante à história do Brasil. É uma história marcada pela
violência, desde o tempo colonial, desde tempo da República Velha, depois
passado pelo golpe contra o Getúlio, o golpe militar; estamos vivendo um
momento negro da nossa história e que só pode ser impedido se esse impeachment
não passar."
Movimentos vão ao Senado dia 29
Além de atos como
o desta terça, em São Paulo, as coordenações dos movimentos informaram que
estão preparando jornadas e outros semelhantes ao da capital paulista contra o
governo interino do presidente em exercício, Michel Temer, o qual classificam
como "ilegítimo". Um desses atos deve reunir movimentos sociais na
entrada do Senado, dia 29, quando Dilma irá se defender perante os senadores.
Participam das
duas frentes populares movimentos como o dos Sem Terra (MST) e o Sem Teto
(MTST), além de centrais sindicais como a CUT (Central Única dos
Trabalhadores).