16 de dezembro de 2016

Pastor Silas Malafaia (O Inocento) diz que mandato é para desmoralizá-lo na opinião pública. Segundo a PF, Malafaia teria "emprestado" contas correntes da igreja para ocultar valores de corrupção.

BRASIL - O pastor Silas Malafaia, alvo de mandado de condução coercitiva expedido pela Justiça, afirmou nesta sexta-feira (16) que vai se apresentar à Polícia Federal, que o investiga no âmbito da Operação Timóteo.
Em seu Twitter, o religioso afirmou que a ordem judicial é uma "tentativa de desmoralizá-lo na opinião pública" e que poderia ter sido "convidado a depor".

"Será que a Justiça não tem bom senso?", questionou ele. "Estou indignado."

Malafaia disse estar em São Paulo e que foi acordado por uma ligação informando que os agentes da PF estavam na porta da sua casa, no Rio.

NESTA MANHÃ FUI ACORDADO, POR UM TELEFONEMA DE QUE A POLÍCIA FEDERAL ESTEVE NA MINHA CASA.ESTOU EM SÃO PAULO
E VOU ME APRESENTAR...
continua
— Silas Malafaia (@PastorMalafaia) 16 de dezembro de 2016
Segundo a PF, Malafaia teria "emprestado" contas correntes da igreja para ocultar valores desviados em um esquema de corrupção em cobranças judiciais de royalties da exploração mineral.

Em sua defesa, o religioso afirmou ter recebido uma "oferta de cem mil reais de um membro da igreja" de um outro pastor, que seria seu amigo. "Não sei o não conheço o que ele faz", completou Malafaia. O cheque teria sido depositado pelo próprio beneficiário em sua conta corrente. "Por causa disso sou ladrão? Sou corrupto? Recebo ofertas de inúmeras pessoas."

.RECEBI UM CHEQUE DE UM ADVOGADO,COMO RECEBO INÚMERAS OFERTAS E AS DECLARO NO
IR.SOU RESPONSÁVEL PELA BANDIDAGEM DE OUTROS?ESTOU INDIGNADO.
— Silas Malafaia (@PastorMalafaia) 16 de dezembro de 2016
Malafaia disse ainda que declara "tudo o que recebe" no imposto de renda. E questionou: "Quer dizer que, se alguém for bandido e me der uma oferta, sem eu saber a origem, sou bandido?".

O esquema
A PF informou que o diretor do DNPM, em posse de informações privilegiadas a respeito de dívidas de royalties, oferecia os serviços de dois escritórios de advocacia e uma empresa de consultoria a municípios com créditos de CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais) junto a empresas de exploração mineral.

O esquema se dividira em ao menos quatro grandes núcleos: o núcleo captador, formado pelo diretor do DNPM e sua mulher, procurava os prefeitos interessados; o núcleo operacional, composto por escritórios de advocacia e uma empresa de consultoria em nome da mulher do diretor, que repassava valores indevidos a agentes públicos; o núcleo político, formado por políticos e servidores responsáveis pela contratação dos escritórios de advocacia; e o núcleo colaborador, que se responsabilizava por auxiliar na ocultação e dissimulação do dinheiro --sobre o qual Malafaia teria informações a prestar.

A Operação Timóteo começou ainda em 2015, quando a então Controladoria-Geral da União enviou à PF uma sindicância que apontava incompatibilidade na evolução patrimonial de um dos diretores do DNPM.

Em nota, a Polícia Federal informou que, além das buscas, os 300 policiais federais envolvidos na Operação Timóteo também cumprem, por determinação da Justiça Federal, 29 conduções coercitivas, quatro mandados de prisão preventiva, 12 mandados de prisão temporária, sequestro de três imóveis e bloqueio judicial de valores depositados que podem alcançar R$ 70 milhões.

O juiz Ricardo Augusto Soares Leite, da Justiça Federal de Brasília, determinou ainda que os municípios se abstenham de realizar quaisquer atos de contratação ou pagamento aos três escritórios de advocacia e consultoria sob investigação.

O nome da operação é referência a uma passagem do livro Timóteo, integrante da Bíblia Cristã: "Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição". (Com Estadão Conteúdo)