BRASIL - O PSDB chega ao dia da reunião de
sua Executiva com um forte movimento contrário ao desembarque da base do
governo Michel Temer, diferentemente do que se via na semana passada, quando a
debandada era a hipótese mais provável no partido.
A possível permanência dos tucanos foi conseguida às custas de muitas conversas
com o Palácio do Planalto, capitaneadas, principalmente, por pressões do
senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), que luta por sua sobrevivência
política, e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, de olho nas eleições
presidenciais de 2018.
Assim, os quatro ministros da legenda —
Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), Aloysio Nunes (Relações Exteriores),
Bruno Araújo (Cidades) e Luislinda Valois (Direitos Humanos) — ficarão à
vontade para se manterem em seus cargos e não haverá fechamento de questão em
relação ao apoio a Michel Temer, que deverá enfrentar um pedido de denúncia por
parte da Procuradoria-Geral da República (PGR) nos próximos dias, a ser
chancelado ou não pela Câmara.
A postura não significará que os deputados do
PSDB serão obrigados a votar contrariamente à eventual denúncia de que Temer
deve ser alvo. Mas já existem articulações para substituir tucanos que pensem
em votar pelo acatamento da denúncia na Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) da Câmara, colegiado que será responsável por emitir um parecer sobre o
caso, antes de ser levado ao plenário da Câmara.
“PENA DE TUCANO PARA TODO LADO”
A única unanimidade no partido deve ser sobre
a união em torno das reformas trabalhista e da Previdência.
A tendência é essa, de liberdade para cada um
agir como quiser. Vai ser pena de tucano para todo lado, afirma um dirigente do
PSDB.
Mesmo afastado do mandato de senador e da
presidência do partido desde que foi revelada gravação em que pedia R$ 2
milhões ao dono da JBS, Aécio Neves tem estado à frente de movimentação pela
permanência do PSDB na base aliada. Ele enfrenta processo de cassação do
mandato no Conselho de Ética do Senado, e precisa do PMDB, o maior partido na
Casa, com 22 senadores, para escapar. O procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, reiterou na semana passada o pedido de prisão de Aécio. Caso perca o
foro privilegiado que seu mandato parlamentar lhe confere, é considerada alta a
probabilidade de ser preso, a exemplo do que ocorreu com o ex-assessor de
Temer, Rodrigo Rocha Loures, detido logo após deixar a vaga de deputado na
Câmara.
Nos bastidores, emissários do Planalto
avisaram sobre o risco de Aécio ser “abandonado” no Senado, caso houvesse um
rompimento com o governo. O movimento de Aécio irritou tucanos que defendiam a
saída do governo. Para esse grupo, o mineiro pensou apenas em sua sobrevivência
e pode comprometer o futuro do partido.
Está tendo um movimento do Aécio de tentar
segurar, é muito evidente. Ele está se movendo pela própria sobrevivência, o
que seria legítimo em outras circunstâncias. Mas, nesse caso, está
comprometendo a instituição a favor de interesses próprios, afirma um senador
tucano.
Em outra frente, Geraldo Alckmin atua
fortemente na contenção dos tucanos de São Paulo que, em um primeiro momento,
pressionaram pelo desembarque. Segundo interlocutores de Alckmin, ele estaria
preocupado com o apoio do PMDB nas eleições presidenciais em 2018. Para
parlamentares do PSDB mais próximos de Aécio, Alckmin teria adotado essa
estratégia com o objetivo de enfrentar um concorrente mais fraco no próximo
ano.
Alckmin não quer um novo presidente em
condições de disputar a reeleição no ano que vem. Para ele, é melhor o Temer
mancando em 2018 do que, por exemplo, um Rodrigo Maia (presidente da Câmara)
andando — afirma esse tucano.
Um integrante das articulações contra o
governo considera que a permanência na base pela qual Alckmin vem trabalhando
pode acabar se mostrando um “abraço de afogados”.
O próprio presidente Michel Temer atuou
diretamente para evitar uma ruptura do PSDB. O ministro Aloysio Nunes esteve
ontem em São Paulo para conversar com Geraldo Alckmin. O prefeito de São Paulo,
João Doria, telefonou para Temer e debateu o tema. Além disso, emissários do
presidente, como o vice-líder do governo Beto Mansur (PRB-SP), estiveram em São
Paulo conversando com Doria, que estaria com o discurso de que o partido deve
manter apoio pelas reformas. É provável que Doria viaje a Brasília ao lado de
Alckmin. Já o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não deve comparecer. Os
três, segundo os próprios tucanos, estão trabalhando por uma solução mais
favorável a Temer, contra uma decisão de rompimento.
“DECISÃO TIPICAMENTE TUCANA”
Os líderes da legenda em São Paulo atuaram
para acalmar os chamados “cabeças pretas”, os mais jovens, da bancada paulista,
que são enfáticos na defesa do rompimento. A mudança de discurso já era sentida
na última sexta-feira e se intensificou no fim de semana, com as novas
conversas.
Acompanho a bancada. Há um grupo que quer
manter os ministros no governo, fazer defesa das reformas e outro grupo que
quer sair. Tem que haver uma decisão nacional, disse o deputado federal Ricardo
Tripoli (SP) ao GLOBO, na noite de sexta.
Um deputado do partido brincou que será uma
decisão “tipicamente tucana”, ou seja, que não terá vencedores e nem vencidos.
Os líderes tucanos trabalham para um script de uma reunião em que não haja
votação sobre a posição, para não expor o racha no partido. O discurso, segundo
um dirigente, será de manter uma postura crítica sobre denúncias, mas que é
preciso dar estabilidade ao país e apoio às reformas, principalmente.
O ministro da Secretaria-Geral, Moreira
Franco, que esteve com Temer ontem, disse ao GLOBO que é preciso aguardar uma
decisão do PSDB para que o governo se manifeste. Ele admite que Aécio Neves
continua tendo influência no partido e trabalha pela permanência do PSDB. Para
Moreira, caso a ruptura de fato não se concretize, o Planalto ganhará fôlego
para as reformas.
Temos que esperar para ver. O empenho do
governo é de retomar o mais brevemente possível o esforço de fazer as reformas
que o Brasil precisa. O PSDB ficando na base, ajuda, facilita. Teve muita
conversa com o PSDB nos últimos dias. Isso mantém no nosso espírito a confiança
de que a melhor alternativa para o país é a continuidade do esforço de criar um
ambiente que não contamine os ganhos econômicos, de manter um programa em cima
do qual a base aliada foi construída. O Aécio está conversando com o PSDB
direto e creio que a posição dele no partido é bastante importante — afirma
Moreira.
Apesar do esforço por uma postura “light”, há
expectativa de reações na reunião da Executiva. O senador Ricardo Ferraço
(PSDB-ES), relator da reforma trabalhista, afirma que continuará a defender o
desembarque:
Continuo defendendo que as denúncias em
relação ao governo são devastadoras e é insustentável a manutenção de um
governo que vá gastar tempo majoritário com sua defesa, comprometendo o
aprofundamento das reformas.
Fonte:oglobo.globo