BRASIL - Depois de 28 anos domiciliado
eleitoralmente no Amapá, o ex-presidente José Sarney transferiu o título de
eleitor de volta para o Maranhão, sua terra natal e berço político. Sarney
alega motivos pessoais para o retorno, mas, segundo amigos e colaboradores, o
ex-presidente só fala em duas coisas:
evitar o esfacelamento de seu clã e tirar
a qualquer custo do Palácio dos Leões o governador Flávio Dino (PC do B),
eleito em 2014 depois de 40 anos de domínio quase ininterrupto do sarneyzismo
no Estado.
“O que Sarney pensa é em voltar ao poder no
Maranhão. Nem é tanto pelo poder em si, mas por uma maneira de dar a volta por
cima, de no final não ser um homem derrotado, marginalizado”, disse o
presidente da Academia Maranhense de Letras (AML), Benedito Buzar, um dos
amigos mais próximos do ex-presidente. “Dino tem agido com uma agressividade
terrível contra os Sarney”, completou.
Com 88 anos recém completados, Sarney mantém
diariamente um espaço em sua agenda para receber os políticos locais. Três
líderes de partidos da base de Dino disseram, sob anonimato, ter recebido
propostas do ex-presidente para apoiar a pré-candidatura de Roseana Sarney
(MDB) ao governo.
Apesar da atividade política intensa, o
ex-presidente tem colhido fracassos na tentativa de minar a ampla aliança que
dá sustentação a Dino. Articulações para trazer o DEM, PP, PRB até agora
falharam. As manobras para filiar a ex-governadora ao DEM e o filho Zequinha
(PV) ao PSD também fracassaram. “A falta de um cargo atrapalha”, disse Buzar.
Simbólico. A família nega que o patriarca esteja
envolvido diretamente nas articulações. “Não tenho visto muito esforço dele
neste sentido”, disse o neto Adriano Sarney, deputado estadual pelo PV. Para
ele, o significado do retorno de Sarney para o Maranhão é mais simbólico do que
prático. “Mas meu avô sempre diz que a política só tem a porta de entrada”,
afirmou Adriano.
Na terça-feira, quando fez aniversário, o
ex-presidente disse a amigos que pretende sair do luxuoso apartamento avaliado
em R$ 4 milhões onde mora, no bairro Ponta da Praia, e voltar para a antiga
casa da família na praia do Calhau. Sarney reclama que a vida em condomínio,
com portarias e elevadores, dificulta os contatos políticos, ao contrário da
casa avarandada do Calhau, onde o portão está sempre aberto.
Segundo amigos e aliados, há muitos anos Sarney não passava tanto tempo em São
Luís.
Na quarta-feira foi para Nova York onde deve
acompanhar as cirurgias no joelho da mulher, a ex-primeira-dama dona Marly, de
85 anos. O casal foi acompanhado de filhos e netos no jatinho particular do
empresário Mauro Fecury, dono da Ceuma, uma das maiores universidades privadas
do país.
O próximo passo, segundo amigos, é abandonar de vez
Brasília, onde mantém uma casa, para se estabelecer apenas em São Luís. O que
impede é a política. A ligação de Sarney com o poder federal é, hoje, mais do
que nunca, uma das principais fontes de poder do clã.