25 de maio de 2018

"Greve continua" - Mesmo após suposto acordo entre sindicatos e governo, caminhoneiros dizem que a greve continua e ANP anuncia que flexibilizará a mistura de biocombustíveis

BRASIL - "Os supostos sindicatos que estão negociando não representam os caminhoneiros que estão na rua", disse o motorista Aguinaldo José de Oliveira, 40, que trabalha com transportes há 22 anos e para quem o movimento não tem um líder.

"São uns aproveitadores que não falaram com a gente antes da greve e chegaram agora, quando já estava tudo parado", afirma o caminhoneiro que está parado na av. Anhaguera, Campinas. "Estou em mais de 30 grupos de WhatsApp e em nenhum aceitaram esse acordo."

Segundo ele, os caminhoneiros pretendem manter a paralisação porque o acordo não atinge as suas principais reivindicações. "São 14 itens que a gente nem conhece. O principal é a redução do diesel, mas não essa esmola temporária de 15 centavos."

Outro caminhoneiro de 48 anos, parado em Campina Grande, na Paraíba e que preferiu não se identificar, concordou que o acordo não representa os trabalhadores autônomos.

"Nenhum caminhoneiro vai aceitar esse acordo. O Brasil vende diesel para a Bolívia a R$ 1,80 e a gasolina a R$ 2,50. Por que não pode vender aqui também?", questionou.

E reclamou de outros pontos que não apareceram no acordo. "Por que só caminhoneiros têm que usar tacógrafo e fazer exames toxicológicos?". Para ele, ou todos os motoristas deveriam ser obrigados a cumprir tais exigências ou que nenhum fosse.

"Pagamos R$ 400 para um exame toxicológico, IPVA, diesel caro e ainda temos que pagar pedágio", disse. "Não está faltando nem comida, nem bebida para gente, vamos continuar nas estradas", afirmou o caminhoneiro. 

ANP flexibiliza mistura de biocombustíveis e vendas entre distribuidoras

Diante dos protestos de caminhoneiros que impedem o fluxo de produtos, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) anunciou nesta quinta-feira a flexibilização da obrigatoriedade de mistura de biodiesel no diesel e de etanol anidro na gasolina.

As medidas têm caráter excepcional e visam garantir "a continuidade do abastecimento de combustíveis e inibir preços abusivos", devendo entrar em vigor a partir de sexta-feira, após a publicação no Diário Oficial da União.

O Brasil mistura 10 por cento de biodiesel no diesel, enquanto a gasolina é vendida nos postos com 27 por cento de etanol anidro.

"A exigência da mistura torna mais complexa a logística na cadeia de distribuição, pois adiciona o fluxo entre a usina produtora e o distribuidor, o qual, geralmente, é rodoviário", afirmou a ANP, em nota.

"Esse fluxo também está sendo prejudicado pela paralisação, impedindo a realização de mistura em diversas bases que já têm o diesel A e a gasolina A, mas não o biodiesel e/ou o etanol anidro em quantidades suficientes", destacou a ANP.

O anúncio foi feito no momento em que usinas de cana do centro-sul do Brasil estão com problemas para vender e comercializar etanol. Ao menos 47 usinas nos Estados de Minas Gerais, Paraná e São Paulo estão com as atividades prejudicadas, segundo a associação do setor Unica.

A ANP ainda aprovou a liberação da vinculação de marca para vendas de distribuidoras de combustíveis líquidos, combustíveis de aviação e GLP (gás de botijão).

Atualmente, 65 por cento das vendas de gasolina, 66 por cento de diesel e 56 por cento de etanol hidratado ocorrem por meio de postos vinculados a marcas específicas de distribuidores (conhecidos como postos bandeirados).

Segundo a ANP, essa vinculação impede que distribuidores de uma marca comercializem com postos de outra. "A flexibilização do modelo oferece alternativa de suprimento por distribuidores cujas bases não tenham sido afetadas pelos bloqueios."

Acordo entre Governo e Sindicatos por 15 dias anunciado
Após negociação do Governo e representantes de caminhoneiros, as partes chegaram a um acordo e a paralisação será suspensa por 15 dias. Para que os trabalhadores voltassem para a estrada, a Petrobras deve manter a redução de 10% no valor do diesel nas refinarias por 30 dias enquanto o governo costura formas de reduzir os preços. A empresa mantém o compromisso de custear esse desconto, estimado em R$ 350 milhões, nos primeiros 15 dias. Os próximos 15 dias serão patrocinados pela União.

O governo também prometeu uma previsibilidade mensal nos preços do diesel até o final do ano sem mexer na política de preços da Petrobras e irá subsidiar a diferença do preço em relação aos valores estipulados pela estatal a cada mês. “Nos momentos em que o preço do diesel na refinaria cair e ficar abaixo do fixado, a Petrobras passa a ter um crédito que vai reduzindo o custo do Tesouro”, disse o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia.

O acordo entre caminhoneiros e governo envolveu somente o diesel, portanto não deve haver redução no preço da gasolina. Uma possível alteração nos preços nos próximos dias deve acontecer em razão da volta do combustível aos postos.

Um outro compromisso do governo no acordo é zerar a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) para o diesel até o fim do ano. Uma negociação com os estados buscará o fim da cobrança de pedágio para caminhões que trafegam vazios, com eixo suspenso. 

 “Chegou a hora de olhar para as pessoas que estão sem alimentos ou medicamentos. O Brasil é um país rodoviário. A família brasileira depende do transporte rodoviário. Celebramos esse acordo, correspondendo a essas solicitações, dizendo humildemente aos caminhoneiros que precisamos de vocês”, disse o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.