Há tempos PT e PMDB são como um casal em crise que dorme em
quartos separados. A metáfora usada na última quinta-feira (16) pelo
presidente da Câmara dos Deputados,
o peemedebista Eduardo Cunha, expunha um
relacionamento difícil, mas que poderia ter uma saída. Esperança que implodiu,
graças ao próprio Cunha, um dia depois. Acuado pela denúncia do empreiteiro Júlio Camargo de que teria cobrado US$ 5
milhões de propina relacionada a contratos com a Petrobras.
E o ambiente entre o Legislativo e o Executivo ficou pesado como
há muito não se via.
Nunca antes na história do país, os
presidentes da República, da Câmara e do Senado correm risco simultâneo de
perder o cargo em meio a suspeitas de envolvimento em corrupção. Para se
salvar, Cunha e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) preparam um cenário de “guerra total”
contra Dilma. Os dois atribuem ao Planalto as acusações contra eles, pois
entendem que a estratégia do PT seria tentar desviar o foco da Lava Jato do
governo para o Congresso.
Entre o baixo e o alto clero das Casas, há certeza de que a vida
política do país vai parar durante o conflito. “Em tempos de crise econômica, a
gente poderia estar discutindo uma extensa pauta para o bem do país no segundo
semestre, mas o fato é que tudo vai ficar paralisado por esse confronto”, prevê
o deputado Roberto Freire, presidente nacional do PPS.
Fora do Congresso, um relatório da agência de
classificação de risco Moody’s foi além e citou, no final da semana
passada, que a batalha política vai produzir efeitos até meados de 2016.
Segundo o estudo, “investigações de corrupção pressionaram significativamente a
economia brasileira, arrastando os setores de engenharia e construção e
energia, conseqüentemente afetando também as indústrias de aço e materiais de
construção”.
É justamente no campo econômico que a dupla
Cunha e Renan têm mais armas para atingir Dilma. Três propostas fundamentais
para as contas do governo dependem da aprovação da Câmara e do Senado. A primeira é o projeto de lei
(PL) que reduz a desoneração da folha de salários, último dos textos do
ajuste fiscal montado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
A segunda, que também tramita no
Senado, é o PL que regulariza a situação de brasileiros com dinheiro no
exterior. Juntas, as duas propostas gerariam uma receita de até R$ 27 bilhões
para o governo. Por último, há a proposta de emenda à Constituição que prorroga
a Desvinculação das Receitas da União (DRU), dispositivo que permite à União
gastar livremente parte das receitas de contribuições sociais, até 2023.
No campo do debate sobre corrupção, Renan e Cunha atuaram para a
instalação de novas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI). Na
quinta-feira, o senador sinalizou a criação de CPIs para apurar desvios nos
fundos de pensão ligados ao governo e em empréstimos do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No dia seguinte, Cunha criou
comissões sobre os mesmos temas na Câmara.
“Pode parecer que não tem tanto peso, mas CPI
tem aquela coisa de que todo mundo sabe como começa, mas não como acaba”,
lembra o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), que foi relator da CPI dos
Correios, que investigou o mensalão.
Do outro lado, Dilma ganhou mais munição para
enfrentar Cunha depois dos desdobramentos da Lava Jato. “A base que sustenta o
Eduardo Cunha não é baseada em adoração à figura dele. Os deputados seguem o
poder que ele tem e, se esse poder diminui com essas novas denúncias, essa base
também diminui”, diz o paranaense Ênio Verri (PT), que fez campanha contra o peemedebista
na disputa pela presidência da Câmara.
Para emparedar Cunha, Dilma poderia cortar cargos e emendas de
bancada de parceiros do deputado. Além disso, estimular dissidentes de Cunha
dentro do próprio PMDB para isolá-lo e partir para o um vale-tudo “ético”
perante a opinião pública. Apesar das denúncias de que dinheiro desviado da
Petrobras foram utilizados na campanha da petista, não há citações de que ela
teria tirado proveito particular dos recursos.
Fonte – gazeta do povo