O BNDES registrou lucro líquido de R$ 3,515
bilhões no primeiro semestre de 2015, 35,8% abaixo dos R$ 5,471 bilhões
anotados nos seis primeiros meses de 2014, informou a instituição de
fomento. Segundo o BNDES, a redução no lucro semestral é consequência da
queda no resultado com participações societárias, de R$ 3,598 bilhões. O
destaque negativo refere-se à participação do BNDES na Petrobras.
"A queda foi motivada por fatores
alheios à gestão do BNDES. A principal causa foi a ausência de distribuição de
dividendos pela Petrobras no primeiro semestre deste ano. Nos primeiros seis
meses de 2014, o BNDES havia obtido receita de dividendos e juros sobre capital
próprio da Petrobras de R$ 1,842 bilhão, que não se repetiu em 2015", diz
o BNDES, em nota.
A participação total do banco de fomento na
estatal é de 17,24% no capital, que encerrou o primeiro semestre avaliada em R$
29,702 bilhões. O valor da participação caiu 21,8% em relação aos R$ 37,979
bilhões verificados no encerramento do primeiro semestre de 2014.
Outro fator que gerou impacto negativo foi a
constituição de provisão para perdas (impairment) no valor de R$ 1,155 bilhão
contra uma despesa de R$ 336 milhões no mesmo semestre de 2014.
No balanço do segundo semestre de 2014, o
BNDES estimou uma "perda permanente" de R$ 2,6 bilhões com a
participação, mas apenas R$ 1 bilhão foram registrados nos resultados como
"perdas não recuperáveis". O banco se valeu uma norma do Conselho
Monetário Nacional (CMN), do fim de 2012, que abre uma brecha nas regras do
Banco Central (BC) sobre a forma de registrar perdas com ações no balanço.
Por causa disso, a KPMG, auditoria
independente do BNDES, aprovou o balanço com duas ressalvas. A primeira foi ao
fato de o banco não abater todo o valor de R$ 2,6 bilhões do lucro, valendo-se
da norma do CMN. A segunda ressalva foi ao cálculo de R$ 2,6 bilhões em si.
Segundo os auditores da KPMG, como à época a Petrobras não tinha balanço
financeiro auditado, não era possível validar os cálculos do BNDES.
Agora, depois de a Petrobras ter apresentado
os balanços atrasados e seu plano negócios 2015-2019, a KPMG retirou a segunda
ressalva.
BNDES sob suspeita
Em maio/2015, após minuciosa investigação no
BNDES, uma força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) pediu a prisão de
mais de 60 suspeitos. O caso é tratado sob sigilo, mas, segundo fonte ligada às
investigações, o MPF devassa operações do BNDES no Brasil e também no exterior,
além dos aportes bilionários que o tornaram sócio de empresas. Os pedidos de
prisão incluem executivos do banco e de grandes corporações.
Mais que Lava Jato - Ainda não há estimativa dos desvios
ocorridos no BNDES, mas representariam várias vezes os R$ 6,2 bilhões roubados da
Petrobras.
Expectativa - A Justiça pôde não atender os mais 60 pedidos, mas
espera-se que muitas prisões sejam decretadas na investigação do BNDES.
Esmiuçando - O MPF esquadrinha os principais negócios realizados à
sombra ou com recursos tomados pelo BNDES junto ao Tesouro Nacional.
Tudo é investigado - Além de desvios, são objetos da
investigação denúncias de tráfico de influência e de pagamentos indevidos a
executivos e a políticos.