Por Cliferthon Lucas
Não sei qual o santo opera esse milagre, mas
de uma coisa eu sei: se meu pai virar prefeito de Manaus, tenho grandes chances
de ser eleito deputado federal pelo Amazonas. A cidade-estado, detentora de
mais de 90% da economia de nossa terra, e abrigando mais de dois milhões de
habitantes, mostra toda a sua força em época de eleição.
Os dados coletados junto ao site do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) não deixam dúvidas quanto a possível ascensão política
da prole do prefeito de momento. Vamos aos números do filho do ex-prefeito e
atual deputado estadual, Serafim Corrêa (PSB), para comprovar a nossa tese.
Marcelo Serafim disputou pela primeira vez
uma eleição em 2000, quando obteve 1.674 votos. Não sendo eleito. Quatro anos
depois, Marcelo recebeu 4.260 votos, na sua segunda tentativa de chegar a
Câmara Municipal de Manaus. Novamente, uma votação que não lhe garantiu vaga na
CMM. Mas se para o filho as coisas não foram boas, 2004 foi o ano da redenção
para o pai. Com isso, dois anos depois, já em 2006, com o patriarca da família
Corrêa sendo prefeito, Marcelo Serafim concorreu e conseguiu uma das oito vagas
do Amazonas na Câmara dos Deputados, em Brasília.
Sua votação impressionou pelos 92.241 votos.
Mas o destino não seria bom para Serafim filho. O pai, até então prefeito da
capital, perdeu a reeleição em 2008 e dois anos depois viu seu filho também ser
rejeitado nas urnas. Marcelo Serafim só conseguiu 69.798 votos nas eleições de
2010. Insuficientes para seguir como deputado federal.
Em 2012, Serafim Corrêa tentou pela quinta
vez ser prefeito, mas encontrou a sua quarta derrota. Como prêmio de
consolação, viu o filho alcançar a confiança de 6.764 eleitores, o que lhe
garantiu o atual cargo de vereador. Com um mandato assegurado, Marcelo Serafim
concorreu ao Senado Federal em 2014. Alcançou 5,73% do eleitorado, o que
correspondeu a 91.428 votos. Ficou em terceiro lugar.
ARTHUR
BISNETO
O atual deputado federal pelo PSDB começou lá
atrás. Sua estreia na política também foi nas eleições municipais de 2000.
Bisneto foi eleito vereador com 5.789 votos. Seu pai foi decisivo para sua
vitória, pois era deputado federal e ministro do Governo Federal. Nas eleições
estaduais de 2002, Arthur Bisneto se elegeu deputado estadual com 12.144 votos.
O pai foi eleito senador em uma das duas vagas que estava em disputa naquele
pleito.
Tentando ganhar notoriedade, Bisneto é
lançado pelo PSDB na corrida pela Prefeitura de Manaus em 2004. Chegou aos 3%,
somando 25.001 votos. Mas uma derrapada na vida pessoal manchou a até então
ascendente carreira política. Um desentendimento e muito disse me disse em uma
cidade do Ceará, fizeram com que ele tivesse uma votação muito abaixo do
esperado em 2006, ano em que iria disputar uma vaga para deputado federal.
O ninho tucano, ao ver que o estrago estava
feito, decidiu tentar manter o mandato de deputado estadual. Bisneto saiu da
eleição envergonhado. Ele não se reelegeu, ficando como primeiro suplente da
coligação, com 14.067 votos. Mas na última hora, aquele santo que faz milagres
poderosos, ajudou Bisneto e uma vaga surgiu para ele na legislatura que se
iniciava. Arthur Neto, o pai, também foi um fracasso na sua candidatura ao
governo Estado. Teve pouco mais de 4%.
Na eleição seguinte, em 2010, Bisneto e o
PSDB privilegiam a reeleição do pai, Arthur Neto, que buscava ficar no Senado.
Com isso, ele concorreu mais uma vez a uma vaga na Assembléia Legislativa do
Estado. Sua votação melhorou e ele obteve o apoio de 21.256 eleitores. O pai,
esmagado pela máquina, não conseguiu se reeleger e saiu da eleição acusando
seus adversários de fraude e adotando a postura de vítima.
Arthur Neto concorreu a prefeito em 2012.
Liderou do início ao fim a eleição e venceu com larga margem. Sempre na posição
de quem foi roubado dois anos antes, na eleição ao Senado. É neste momento, meu
querido leitor, que nossa tese se reforça mais ainda. Nas eleições de 2014,
Arthur Bisneto teve a chance de recuperar os anos perdidos e recebeu o sinal
positivo do pai prefeito para disputar a vaga de deputado federal. Saiu das
urnas com uma montanha de mais de 250.916 votos.
As reflexões deixo para
você. Mas de uma coisa nós já sabemos: o filho do prefeito pode virar deputado
federal. Mesmo que tenha perdido para vereador ou tenha tido uma votação pífia
quatro anos antes. O santo dos prefeitos é forte.