BRASIL - O conteúdo da delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró deixou
em alerta o Palácio do Planalto, que teme a influência das denúncias no
processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em curso na Câmara dos
Deputados desde o final de dezembro de 2015.
Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobras, declarou à
Procuradoria-Geral da República ter ouvido do senador Fernando Collor (PTB-AL)
menção à presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, em setembro de
2013, Collor afirmou que suas negociações para indicar cargos de chefia na BR
Distribuidora, subsidiária da Petrobras haviam sido conduzidas diretamente por
Dilma.
Em depoimento prestado no dia 7 de dezembro de 2015, Cerveró relatou os
bastidores das indicações para cargos estratégicos na Petrobras, principalmente
na BR Distribuidora, apontada pelos investigadores como “cota” pessoal do
ex-presidente Collor (1990-1992).
Cerveró citou duas vezes a presidente. “Fernando Collor de Mello disse
que havia falado com a presidente da República, Dilma Rousseff, a qual teria
dito que estavam à disposição de Fernando Collor de Mello a presidência e todas
as diretorias da BR Distribuidora. Collor de Mello disse que não tinha
interesse em mexer na presidência, e nas diretorias da BR Distribuidora de
indicação do PT”, declarou o ex-diretor, condenado na Lava Jato por corrupção e
lavagem de dinheiro.
Cerveró disse ter ouvido o relato de Collor sobre suposto encontro
com Dilma durante uma reunião em Brasília, que teria ocorrido, segundo o
delator, em setembro de 2013. Na ocasião, Cerveró estava empenhado em se manter
no cargo de diretor Financeiro e Serviços da BR Distribuidora – subsidiária da
Petrobras –, que assumiu após deixar a área Internacional da estatal
petrolífera. Ele disse que Pedro Paulo Leoni o chamou para uma reunião com
Collor na Casa da Dinda, residência do ex-presidente.
Segundo o ex-diretor, Collor disse na reunião “que não tinha interesse
em mexer na presidência e nas diretorias da BR Distribuidora”. Cerveró afirmou
que tais nomes eram indicação do PT – presidente José de Lima Andrade Neto;
diretor de Mercado Consumidor Andurte de Barros Duarte Filho e ele próprio,
como diretor Financeiro e de Serviços.
O ex-diretor da Petrobras afirmou que “ironicamente agradeceu” a Collor
por ter sido mantido na BR e citou um ex-ministro de Collor na Presidência, o
empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, o PP. “Depois, (Pedro Paulo Leoni) disse ao
declarante que Fernando Collor havia ficado chateado com a ironia do
declarante, uma vez que pareceu que o declarante estava duvidando de que
Fernando Collor de Mello havia falado com Dilma Rousseff. Nessa ocasião, o
declarante percebeu que Fernando Collor realmente tinha o controle de toda a BR
Distribuidora.” Cerveró disse que, então, entendeu a força de Collor na BR. “Nessa
ocasião o declarante percebeu que Fernando Collor de Mello realmente tinha o
controle de toda a BR Distribuidora”, afirmou. “Fernando Collor de Mello e
Pedro Paulo Leoni Ramos mantiveram o declarante no cargo para que não
atrapalhasse os negócios conduzidos por ambos na BR Distribuidora; que esses
negócios eram principalmente a base de distribuição de combustíveis de
Rondonópolis/MT e o armazém de produtos químicos de Macaé/RJ.”
A defesa de Collor refutou as acusações e considerou “falsas” as
alegações de que ele “tenha usado de influência política para obter favores ou
exercer qualquer outro tipo de pressão sobre diretores ou funcionários da BR
Distribuidora a fim de satisfazer interesses próprios ou de terceiros”.
O Planalto afirmou que não comentaria a menção a Dilma, assim como a
assessoria de imprensa de Pedro Paulo Leoni.
Preocupação
A citação à
presidente da República preocupa o PT e os assessores diretos dela. A avaliação
é de que Dilma havia encerrado o ano passado com relativa tranquilidade após o
Supremo Tribunal Federal ter anulado a criação da Comissão Especial criada na
Câmara dos Deputados a para analisar o impeachment e dar determinado que o
Senado tem a palavra final sobre o processo de afastamento.
Grupos anti-Dilma
prometem manifestações de rua pelo impeachment em fevereiro ou março. Os
petistas temem que as menções a Dilma e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva nas delações possam engrossar os protestos, que ficaram abaixo do
esperado em dezembro do ano passado.
Fonte: jornal O Estado de S. Paulo e Gazeta do Povo