BRASIL - Se em Brasília tucanos e petistas não encontram espaço para o diálogo
em busca de saídas para a crise econômica, fundadores de ambos os partidos
deram mostra, nesta quarta-feira (3) em Manaus, de que ainda há possibilidade
discussão de pautas em prol de interesses coletivos. Pelo menos foi o que se
viu nos discursos do prefeito Artur Virgílio Neto (PSDB) e o ministro da
Educação, Aloízio Mercadante (PT).
Os dois
propuseram um pacto nacional, com foco na educação, para reerguer o País. A
proposta surgiu durante um encontro do ministro com gestores locais no Centro
de Convenções Vasco Vasquez, na Zona Oeste, nesta manhã.
Na ocasião, Artur se insurgiu contra o impeachment de
Dilma Rousseff (PT), defendendo a discussão de uma pauta positiva, enquanto
Mercadante teceu elogios ao prefeito, chamando-o de combativo, corajoso e
independente. O tucano disse que o impeachment "é coisa miúda" e que
"agora é hora das pessoas se unirem".
“Se nós, brasileiros, não tomarmos algumas atitudes muito
claras contra crise, que eu chamo de um pacto nacional, nós vamos terminar
fazendo com que 2015, 2016 contaminem os anos de 2017, 2018. E aí, o Brasil
teria que muito penosamente atravessar um período de recessão grave",
disse Artur.
"Aproveito
a presença do ministro para dizer que precisamos discutir uma pauta positiva e
que resulte na união da sociedade. A alfabetização das crianças é uma dessas
pautas nobres", defendeu o tucano.
"Temos
muito o que fazer e temos eleição marcada para 2018, e lá que é a hora das
pessoas se separarem, agora é hora das pessoas se unirem. O país não pode ficar
sem rumo, ou ficar com preconceitos na hora de conversar com adversários.
Entendo que é possível, muito bem, separar as coisas. Eleição é uma coisa, fora
da eleição é outra coisa. De minha parte, o meu coração esta aberto para sair
dessa coisa miúda que é o impeachment, enquanto a crise se agrava cada vez
mais, portanto é a hora de darmos uma reviravolta nisso. Minha visão política
eu deixo para a eleição de 2018. Sou a favor de um pacto nacional",
completou o prefeito de Manaus.
Por sua
vez, Aloízio Mercadante, ressaltou a atuação de Artur no Senado - entre
2003 e 2010, mesmo período dos dois mandatos do ex-presidente Lula, quando foi
o líder da oposição e crítico ferrenho do governo. Antes, no governo de
Fernando Henrique Cardoso, foi deputado-federal e ministro chefe da Casa Civil.
"O Artur é um
tucano de raiz. É um tucano combativo e foi uma voz corajosa e independente no
Senado Federal, portanto, eu vejo com bons olhos esse gesto dele propor um
pacto, propor uma agenda positiva de reforma para o País. Nós não precisamos
ter acordo de mérito sobre todas as reformas, mas nós podemos ter uma
convergência sobre a pauta e sair dessa polarização que só tem
prejudicado", afirmou Mercadante.
"Ninguém
ganha com esse cenário político eleitoral que o Brasil atravessa. Nós, homens
públicos, já estamos ficando de cabelos brancos e já sabemos o que cada um
pensa. Saio daqui esperançoso e trabalharei, por que sei quem muitas pessoas
estão do nosso lado e querem pensar uma agenda de reforma. O Pacto pela
Educação aqui hoje talvez seja um passo para um Pacto Nacional", defendeu.
Posturas
O
prefeito de Manaus é o primeiro líder tucano de grande expressão a se
manifestar claramente contra o impeachment. O comportamento destoa da postura
adotada pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato derrotado nas eleições
presidenciais de 2014 e um dos principais defensores da saída da presidente do
cargo por meio do processo aberto na Câmara dos Deputados.
Não é a primeira vez que o prefeito se mostra contra o
impeachment. Em entrevista para A Crítica no dia 3 de janeiro, o político afirmou que o processo de impedimento
seria teria um custo muito alto. Antes, porém, o prefeito chegou a convocar manifestantes, em
março de 2015, para um protesto contra Dilma.