CARTA ABERTA AO JUIZ SÉRGIO MORO
Tenho acompanhado, como brasileiro
esperançoso, sua atuação à frente da operação Lavajato.
Daí a admiração que, de longe, passei a
nutrir por sua pessoa.
Veja bem, dr. Moro, admiro muitos dos seus gestos, mas
obviamente não o idolatro. A idolatria não seria benéfica para ninguém,
principalmente para o senhor mesmo. Atitudes e sentimentos exagerados acabam
por deformar o alvo das homenagens. Acredite nisso.
Li, com muita surpresa, uma certa lista - ou
planilha, para usar palavra tão em moda nestes tempos tristes - que mistura o
legal com o ilegal, o verdadeiro com o falso. Trata-se de um rol de nomes que
teriam sido beneficiados com doações, em dinheiro, da empresa Odebrecht. Mas é
preciso separar o que são doações legais de campanha, documentadas oficialmente
aos TREs, do que chamam de propinas. Ao juntar todos em uma única lista, surgem
as distorções.
Vamos aos fatos: recebi, em 2010, R$ 80 mil,
a título de colaboração para a minha campanha de reeleição ao Senado. Tal
doação faz parte da declaração que apresentei ao TRE-AM, que prontamente
aprovou minhas contas de campanha. Mais ainda: fui deputado federal por 12
anos, secretário-geral do PSDB por 3, senador por 8, prefeito de Manaus pela
segunda vez. Fui líder do governo Fernando Henrique, por duas vezes, e
Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência, no primeiro mandato desse
mesmo ilustre presidente. Pois entrei e saí de postos tão nevrálgicos sem ter
sido questionado por quem quer que fosse. E nunca beneficiei a empresa
Odebrecht, ou outra qualquer, muito orgulhoso que fico de nunca ter recebido
solicitações de qualquer sorte ou de qualquer. Aliás, desprezo quem oferece
propina e desprezo também quem é procurado para recebê-la. O propineiros sabem
as árvores que podem dar bons frutos e, portanto, jamais cruzam os caminhos das
pessoas de bem.
Uma pergunta se recusa ao silêncio: que
obséquio poderia o líder oposicionista (mais vigoroso) ao consulado do presidente
Lula da Silva? Teria a Odebrecht doado à formidável quantia de R$ 80 mil para
um senador que pudesse obter recursos a serem investidos no Porto Mariel ou em
qualquer desperdício na Venezuela, na Bolívia e afins? Mais uma indagação, se o
senhor não se aborrece em analisa-la: por quê esse vazamento tão eivado de
injustiças. Mais outra: o q tenho eu a ver com a Lavajato? O que tem minha
campanha de 2010 a ver com descaminhos futuros e desastrosos dessa empresa
baiana?
Por quê então, dr. Moro, meu nome, nessa
lista tão esdrúxula? Em mim e em quem me conhece, causou uma estranheza enorme.
E eu não poderia calar, diante desse imerecido constrangimento.
Dr. Moro, o senhor é um bom e corajoso juiz. Isso deveria bastar-lhe. Não deslegitimize a Lavajato com vazamentos desse tipo.
Dr. Moro, o senhor é um bom e corajoso juiz. Isso deveria bastar-lhe. Não deslegitimize a Lavajato com vazamentos desse tipo.
Aguardo providências suas. Com o nome que
recebi dos meus maiores, ninguém brinca. O senhor, portanto, terá de
respeita-lo como eu, até o presente, tenho respeitado o seu.
Muito cordialmente, Arthur Virgílio Neto