BRASIL - A cidade de Itaboraí, no Estado do
Rio de Janeiro, viveu anos de animação e expectativa, esperando uma
prosperidade que ainda não chegou. Em 2008, quando começou a construção do
Complexo Petroquímico da Petrobras (Comperj), a perspectiva era de que se criassem
milhares de empregos ligados ao setor em Itaboraí, o que atraiu investimentos e
trabalhadores de todo o país.
Mas uma queda no preço
internacional do petróleo, os altos custos da estrutura e os escândalos de
corrupção investigados pela operação Lava Jato fizeram esse sonho ruir: parte
das obras do Comperj foi suspensa, e parte dos trabalhadores do local enfrentou
ondas de demissões.
O Comperj - formado por
duas refinarias, uma planta petroquímica e uma de gás natural - deveria ter
ficado pronto em 2011, segundo a Agência Brasil. O espaço teria capacidade de
refinar 165 mil barris de petróleo por dia. O objetivo seria atender ao
crescimento da demanda de derivados no Brasil, como óleo diesel, nafta
petroquímica, querosene de aviação, coque e GLP (gás de cozinha).
Mas atualmente a única
obra com previsão para ser concluída (em 2017) é a planta de beneficiamento de
gás. Empresas envolvidas na construção das refinarias foram investigadas na
Operação Lava Jato, que apura pagamentos de propina e políticos. A investigação
levou à prisão donos de construtoras e ex-dirigentes da Petrobras - como o
então diretor de abastecimento da estatal Paulo Roberto da Costa.
No último mês de março,
ainda na gestão anterior da empresa - Pedro Parente, novo presidente da
estatal, assumiu o cargo em maio -, a Petrobras informou que o Comperj só deve
entrar em funcionamento no ano de 2023.
A crise econômica e as
incertezas sobre a construção do complexo provocaram milhares de demissões em
Itaboraí - refletindo a crise financeira em todo o Estado do Rio de Janeiro,
que recentemente decretou estado de calamidade por conta dos problemas de caixa.
"A nossa dispensa
foi em 2015", conta o soldador Sérgio. "A despesa com dois filhos
pequenos e com esposa é muito alta, então você não pode ficar parado. Quase
todos os dias nós vamos na agência para ver se há uma vaga de emprego porque a gente
tem que fazer alguma coisa para sustentar a família."
Muitos trabalhadores de
outros Estados que foram para o Rio de Janeiro para trabalhar em Itaboraí não
conseguiram voltar para casa por falta de recursos. Segundo Helil Barreto
Cardozo (PTN), prefeito de Itaboraí, muitos prédios foram construídos para
receber funcionários e executivos da indústria do petróleo. Porém, a maioria
deles nunca entrou em funcionamento.
"Esse sonho virou
um grande pesadelo para a cidade", disse Cardozo. Até agora, a Petrobras
investiu estimados US$ 14 bilhões em Itaboraí. Retomar o projeto e colocar o
complexo em funcionamento até 2023 vem sendo tratado como de grande importância
estratégica pelo governo - para tentar reduzir o déficit da importação de
combustíveis no Brasil.
Mas para os trabalhadores
que apostaram no sonho do complexo petroquímico de Itaboraí, a perspectiva
parece muito distante. "A gente não consegue enxergar o futuro, porque
está tudo parado, a gente fica pensando em como recomeçar", disse o
soldador Sérgio.
Fonte: bol