MUNDO - Após a tentativa
fracassada de golpe na última sexta-feira, o governo da Turquia deu sequência
neste domingo às prisões de militares do alto escalão das Forças Armadas do
país suspeitos de estarem envolvidos na ação.
O número de presos supera os 6 mil, segundo o
Ministério das Relações de Exteriores da Turquia, que afirmou que mais de 190
cidadãos morreram ao se opor ao golpe. Entre os golpistas, também de acordo com
o governo do país, há mais de 100 mortos.
Em comunicado divulgado hoje, a Chancelaria
turca atribui a responsabilidade do golpe à "Organização Terrorista
Fethullah Gülen (Fetö)", termo usado pelo governo para se referir à rede
Hizmet, formada por seguidores do clérigo, exilado nos Estados Unidos.
Gülen negou qualquer envolvimento no golpe, e
o secretário de Estado americano, John Kerry, pediu que a Turquia apresente
provas da participação do clérigo antes de considerar sua extradição.
Um comunicado militar divulgado hoje, o
primeiro desde o golpe fracassado, usa termos similares ao governo turco, ao
atribuir a responsabilidade da ação a "membros de uma organização
terrorista ilegal que se infiltrou nas Forças Armadas".
A nota promete "punir da maneira mais
severa, dentro da lei, aqueles que se sublevaram". Além disso, destaca o
papel do povo, que freou o golpe ao tomar as ruas do país, apesar de também
ressaltar que a ampla maioria dos membros das Forças Armadas rejeitou a ação.
Apesar de o comunicado afirmar que todos os
golpistas já foram "neutralizados", algumas operações ainda foram
realizadas neste domingo, sendo noticiadas pela imprensa local.
Uma ampla operação policial ocorreu na base
aérea de Konya, no centro da província de Anatólia, que terminou com a prisão
do coronel comandante da instalação e outros seis militares.
A dentenção de outro militar perto do
aeroporto de Sabiha Gökçen, em Instambul, ocorreu após tiros de advertência
para o morto, mas sem mortos ou feridos, de acordo com o jornal
"Sabah".
Imagens publicadas pelo jornal
"Hürriyet" mostram 11 soldados amarrados, deitados no chão, cercados
de homens armados.
Pela manhã, também tinham sido presos o
general que comandava a estratégica base aérea de Incirlik, onde estão caças
dos EUA, Reino Unido, Alemanha, Catar e Arábia Saudita, e outro na base de
Denizli, junto a mais 52 militares.
A imprensa turca afirma que 30 generais estão
presos, incluindo dois dos principais comandantes das forças terrestres. Entre
os detidos está Akin Oztürk, ex-comandante da Força Aérea, que seria nomeado
chefe do Estado-Maior caso o golpe prosperasse.
Provocou surpresa a prisão do coronel Ali
Yazici, assistente militar do presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, desde
agosto, um cargo de confiança que o líder escolhe entre os militares.
Vários soldados de baixo nível na hierarquia
militar, que estavam fazendo o serviço obrigatório, afirmam que não sabiam
sobre o golpe e obedeceram às ordens de sair dos quartéis.
Várias das vítimas do golpe foram enterradas
hoje em uma série de cerimônias públicas. Uma delas, na mesquita de Fatih, em
Istambul, contou com a presença de Erdogan.
Em discurso, o presidente prometeu que
dialogará com a oposição para avaliar a possibilidade de reintroduzir a pena de
morte na Turquia, abolida em 2004, como pediam aos gritos seus seguidos.
"No tema da pena capital, com certeza
tomaremos uma decisão. Irmãos, no governo, escutamos esse pedido de vocês. Não
podemos ignorá-lo. Na democracia, o que o povo disser, será", disse
Erdogan, sendo aplaudido pelos presentes.