BRASIL - Último a falar na tribuna, o senador
Romário (PSB-RJ) destacou a gravidade do momento que requer o afastamento de
Dilma. "Não há dúvida de que houve crime e o impeachment é
inevitável", afirmou. Ele disse ainda esperar que as divergências que dividiram
o país nos últimos meses sejam deixadas de lado depois da votação. "O
momento é de reconstrução, de união e de trabalho duro", disse. O senador
falou ainda que, seja qual for o resultado, não apoiará nenhuma medida que
retire direitos dos trabalhadores. "Não podemos subestimar a crise, mas
não podemos deixar que ela nos tire a esperança no futuro", afirmou.
Nesta fase do julgamento, os
senadores tiveram 10 minutos para se pronunciar sobre como irão votar na
votação final do impeachment, que deverá acontecer na quarta-feira (31). A fase
de discursos começou às 14h32 desta terça-feira (30) e foi interrompida às
18h10 pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski,
para o jantar, voltando cerca de uma hora mais tarde. Último a falar,
Romário encerrou os discursos às 2h30 da quarta. Ao todo, 66 senadores se
inscreveram para esta fase de pronunciamentos.
Para que Dilma seja afastada
definitivamente, é preciso que pelo menos 54 senadores votem favoravelmente ao
impeachment. Caso contrário, ela é inocentada dos crimes de responsabilidades
dos quais é acusada e retorna ao exercício da Presidência da República, do qual
foi afastada no dia 12 de maio.
A favor do impeachment
Os senadores que já se manifestaram a favor do impeachment
foram: Gladson Cameli (PP-AC), Antonio Anastasia
(PSDB-MG), Ataídes Oliveira (PSDB-TO), Lúcia Vânia
(PSB-GO), Lasier Martins (PDT-RS), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Álvaro
Dias (PV-PR), Antonio Carlos Valadares (PSC-SE), Dário Berger (PMDB-SC), José Medeiros
(PSD-MT), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Eduardo Amorim (PSC-SE),
Aécio Neves (PSDB-MG), Magno Malta (PR-ES), Valdir Raupp (PMDB RO),
Ivo Cassol (PP-RO), José Aníbal (PSDB-SP), Garibaldi Alves Filho
(PMDB-RN), Paulo Bauer (PSDB-SC), Eunício Oliveira
(PMDB-CE), Cidinho Santos (PR-MT), Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Ricardo
Ferraço (PSDB-ES), Benedito de Lira
(PP-AL), Zeze Perrella (PTB-MG), Wilder Morais (PP-GO),
Sérgio Petecão (PSD-AC), Hélio José (PMDB-DF), Rose de Freitas
(PMDB-ES), Ana Amélia (PP-RS), Simone Tebet (PMDB-MS), Waldemir Moka (PMDB-MS),
Pedro Chaves (PSC-MS), Reguffe (sem sigla-DF), Fernando Bezerra
Coelho (PSB-PE), Cristovam Buarque (PPS-DF)
e JoséAgripino (DEM-RN).
Entre os que foram mais enfáticos em
sua manifestação contra a presidente Dilma e o PT, estão Ataídes Oliveira
e Caiado. "Amanhã estaremos definitivamente livres dessa chaga que é o PT
no governo. Estaremos livres da incapacidade administrativa, da falta de
diálogo, da falta de ética e da absoluta irresponsabilidade fiscal da
presidente Dilma", disse Oliveira.
Ronaldo Caiado também foi ácido em
suas críticas ao PT. "O PT acredita que ele tem o dom de poder interpretar
os fatos como eles acham que devem ser interpretados. E aí passam a acusar
todos os que não comungam com eles. E o mais grave é que a partir daí eles
começam a criminalizar todos os setores da vida brasileira [...] Esta casa não
vai se abaixar ante essa campanha que está sendo feita", disse Caiado.
Antonio Carlos Valadares (PSB-SE),
apesar de não ter dito abertamente que vota pelo impeachment, fez uma fala
recheada de críticas a Dilma. Já Valadares disse que ver abuso de poder na
atitude de Dilma, mas não declarou voto. "Não resta dúvida, em nosso
juízo, de que a presidente da República agiu com abuso de poder político,
violando a lei orçamentária, as prerrogativas do Congresso Nacional, a
Constituição da República, desestabilizando o regime de responsabilidade
fiscal".
Contrários ao impeachment
Os senadores que se manifestaram
contra o impeachment foram Jorge Viana (PT-AC), Roberto Requião (PMDB-PR),
Fátima Bezerra (PT-RN), Ângela Portela (PT-RR), Lídice de Mata
(PSB-BA), Gleisi Hoffmann (PT-PR), Vanessa Grazziottin (PCdoB-AM),
Humberto Costa (PT-PE), Regina Sousa (PT-PI), José Pimentel (PT-CE), Paulo Paim
(PT-RS), Armando Monteiro (PTB-PE), Randolfe Rodrigues (Rede-AP),
Lindbergh Farias (PT-RJ) e Otto Alencar (PSD-BA).
Sousa afirmou que "a disputa
aqui é entre o Bolsa Família e a bolsa de valores, entre um pais para todos e
um país para os ricos". Já Viana pediu que os colegas de Senado pensem sobre
como a história irá julgá-los após a votação do processo de impeachment e citou
o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado por
Viana de ter iniciado o processo de impeachment contra Dilma por
"vingança". "Eu queria saber como a história vai julgar os que
acusaram (Dilma Rousseff)? É parte da democracia. Alguns podem estar
comprometendo sua biografia. Quero saber como a história vai julgar o senhor
Eduardo Cunha, que por ódio, por vingança, deu início ao a esse processo
de impeachment", disse Viana.
Requião citou a carta póstuma deixada
por Getúlio Vargas em 1955 e comparou o processo de impeachment contra Dilma ao
golpe militar de 1964. "Este Senado está prestes a repetir a ignomínia de
março de 64. O que se pretende? Que daqui a alguns anos, se declare nula esta
sessão, como declaramos nula a sessão que tirou o mandato de Goulart e peçamos
desculpa à filha e aos netos de Dilma?", disse Requião.
A petista Fátima Bezerra saiu em
defesa de Dilma. "Este processo de impeachment, a despeito de seguir um
rito constitucional, supervisionado pelo Supremo Tribunal Federal, representa
um atentado contra o Estado de Direito e a Constituição cidadã, pois pretende
afastar da Presidência da República uma mulher íntegra, honesta, que não cometeu
nenhum crime de responsabilidade", declarou.
Sem declaração de voto
Destes primeiros
senadores, Acir Gurgacz (PDT-RO) e Fernando Collor
(PTC-AL) não declararam abertamente seus votos.
Em seu
pronunciamento, Gurgacz criticou a crise política e econômica, mas
não explicitou em que direção irá votar.
Collor também fez duras críticas ao
governo da presidente afastada, mas não declarou o seu voto explicitamente.
"O governo afastado transformou sua gestão numa tragédia anunciada. É o
desfecho típico de governo que faz da cegueira econômica o seu calvário,
e da surdez política o seu cadafalso. Esse é um contexto que outrora
até poderia ensejar um golpe de estado clássico para solucionar em curto prazo
uma aguda crise política. Não foi o caso", afirmou.
Após a fase de pronunciamentos sobre
os votos, dois senadores deverão falar pela acusação e outros dois pela defesa
-- é a chamada fase de encaminhamento. Cada um falará por até cinco minutos.
Depois disso, Ricardo Lewandowski deverá abrir a votação para que os senadores
julguem Dilma por meio do voto. A votação será eletrônica, aberta e está
prevista para ser realizada na quarta-feira (31) pela manhã.
Na manhã desta terça, falaram, por
1h30, defesa e acusação. Pela defesa, discursou José Eduardo Cardozo,
advogado de Dilma. Pela acusação, revezaram-se os advogados Janaina
Paschoal e Miguel Reale Júnior.