BRASIL
- A Polícia Civil de São Paulo investiga se o Primeiro Comando da Capital (PCC)
já teria repassado a “ordem” para que bandidos aliados se mobilizem para se
vingar da facção criminosa Família do Norte (FDN), que matou 60 presos em penitenciárias
do Amazonas.
O
ponto de partida para a investigação é uma carta supostamente assinada pelo
Comando Regional Norte do PCC, que circula em grupos de WhatsApp. Em um dos
trechos, diz-se que “essa dita facção FDN será dizimada da face da terra”. Para
isso, afirmam que contam com o apoio de bandidos do exterior e até de facções
rivais.
A
união dos criminosos seria porque a FDN, ao promover o massacre em Manaus,
quebrou o “código de ética” do crime, que impõe uma suposta convivência com
grupos rivais, pois a “meta” sempre foi “lutar contra o Estado e não contra
nossos irmãos mesmo que de outras organizações fossem”.
Diz
o texto: “Saibam que vocês (FDN) declaram guerra não só ao PCC, mas a todos
aqueles que lutam contra o Estado corrupto brasileiro... Essa chacina foi uma
declaração de guerra contra o tráfico de drogas de todo o Brasil. Uma facção
sozinha não será capaz de destruir anos de aliança dos irmãos”. Os bandidos
afirmam ainda que a guerra de facções travada nos morros, nas periferias, nas
favelas, vai ganhar as ruas.
Na
carta, os criminosos se mostram solidários às famílias das vítimas e dizem que
vão providenciar indenização. Pedem também ajuda financeira dos demais
integrantes da facção criminosa para complementar os valores.
O
texto acaba com a conhecida saudação do PCC “paz, justiça e liberdade”.
Força-tarefa
O
Ministério Público Estadual do Amazonas formou uma força-tarefa com 12
promotores que vão acompanhar as investigações sobre o massacre de Manaus. As
apurações vão desde descobrir quem são os responsáveis pela matança até as
suspeitas de irregularidades e superfaturamento do sistema de terceirização da
gestão prisional do Estado.
Segundo
o presidente da Associação Amazonense do Ministério Público, promotor Reinaldo
Alberto Nery de Lima, o grupo vai apurar pelo menos cinco frentes: a
investigação do massacre, da conduta dos gestores, dos contratos das empresas
prestadoras de serviços, situação dos presos provisórios e dos presídios do
interior.
Ele
disse que o Ministério Público, juntamente com as demais autoridades, está
atento para eventuais desdobramentos no âmbito criminal por causa da chacina em
Manaus. É investigada uma possível participação de integrantes do PCC em oito
assassinatos registrados em dez horas na capital.
“A
população fica assustada sem saber se é uma coincidência (as mortes) ou não.
Mas o Ministério Público também vai acompanhar essa investigação”, afirmou.
Guerra
Para
o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado (Gaeco), as mortes em Manaus são uma consequência da guerra entre o
PCC e o Comando Vermelho. Segundo as investigações, as facções eram “parceiras”
no tráfico de drogas, mas ao longo do ano passado aconteceram vários
desentendimentos. Depois da morte do narcotraficante Jorge Rafaat, em junho, na
fronteira com o Paraguai, houve o rompimento definitivo. O motivo é que o PCC
não aceitou dividir com o CV o lucro do tráfico de drogas na fronteira daquele
país.
Em
outubro, 18 presos ligados ao PCC morreram em rebeliões em presídios de Roraima
e Rondônia, que são dominados pela FDN, aliada do CV no tráfico de drogas na
fronteira com a Bolívia.
Ainda
segundo Gakiya, as investigações apuraram que o PCC, após as mortes de outubro,
fez um mapeamento de presos de outras facções, principalmente do CV, que estão
detidos em presídios paulistas. A suspeita é de que se vai articular uma
represália em algum momento. Nessa guerra do tráfico, as investigações
descobriram também que o PCC se aliou à facção Amigos dos Amigos (ADA), que
domina o tráfico na favela da Rocinha, no Rio.