21 de fevereiro de 2017

PF apura palestras (Que nunca fez) de Lula pagas através de repasses ilegais da Odebrecht e empresa de pequeno porte

BRASIL - Polícia Federal apura se a Odebrecht usou uma empresa de pequeno porte, de Porto Alegre, para ocultar repasses ilegais ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na contratação, em 2011, das duas primeiras palestras do petista, patrocinadas pelo grupo.

A empreiteira foi a maior contratante da LILS Palestras e Eventos, aberta naquele ano, após Lula deixar o Planalto. São dez eventos realizados em Angola, na Argentina, em Cuba, Peru, Portugal, República Dominicana e Venezuela, sob investigação da Operação Lava Jato, em Curitiba.
A Telos Empreendimentos Culturais recebeu R$ 1,3 milhão do Grupo Odebrecht --que teve seus acordos de delação premiada homologados pela Justiça, no dia 31 de janeiro. Os valores foram para pagamento de palestras de Lula na Venezuela e no Panamá.
A força-tarefa da Lava Jato suspeita que as palestras, os valores recebidos e as movimentações financeiras da LILS ocultaram valores de corrupção e crimes de lavagem de dinheiro.
O inquérito será concluído em 2017 e deve ser anexado a mais uma denúncia criminal contra o ex-presidente, que é alvo de duas ações penais abertas em 2016, na Justiça Federal do Paraná.
As duas palestras renderam à LILS o total de R$ 631 mil, em dois pagamentos feitos pela Telos, nos dias 24 de maio e 6 de junho de 2011. Os valores foram transferidos poucos dias depois da contratante receber quatro depósitos da Odebrecht, a título de patrocínio cultural, e da Braskem - braço petroquímico do grupo, que tem como sócia a Petrobras.
Siga o dinheiro
A descoberta de que Odebrecht e a Braskem eram as fontes de pagamentos das palestras veio com a ordem do juiz federal Sérgio Moro - dos processos em primeira instância da Lava Jato, em Curitiba - de quebra dos sigilos fiscal e bancário da Telos.
"O Grupo Odebrecht/Braskem transferiu o total de R$ 1,3 milhão para a empresa Telos Empreendimentos Culturais. A empresa Telos repassou, poucos dias após o recebimentos de recursos do grupo Odebrecht/Braskem, o total de R$ 631.908,46 para a empresa LILS", informa o laudo contábil-financeiro 2396/2016, da PF em Curitiba.
O documento pericial da PF detalha as duas operações. No dia 16 de maio a Braskem depositou R$ 200 mil para a Telos e no dia 17 a Odebrecht outros R$ 450 mil - totalizando R$ 650 mil; sete dias depois, a empresa de Porto Alegre paga à LILS o valor de R$ 306 mil.
No dia 26, a Odebrecht faz outro pagamento de R$ 450 mil para a Telos, e a Braskem, R$ 200 mil, no dia 28; a Telos paga a empresa de Lula no dia 6 de junho, R$ 325 mil.
O valor pago à LILS pela Telos chamou a atenção da PF - as contratantes de Lula são, em geral, empreiteiras, multinacionais e bancos.
Aberta em 2005, em Porto Alegre, a empresa é de pequeno porte e tem capital social de R$ 3 mil, segundo documento da Lava Jato. Seu principal projeto cultural é o "Fronteiras do Conhecimento", que organiza conferências com grandes pensadores, desde 2006.
Analisando os recebimentos superiores a R$ 5 mil nas contas da Telos, de 2007 a 2016, a PF constatou que de R$ 1,77 milhão que entraram, a maior parte veio do Grupo Odebrecht, pela Construtora Norberto Odebrecht e a Braskem. O grupo já era patrocinador de projetos da Telos.
Do ponto de vista fiscal, a Lava Jato destacou ainda que, como empresa de pequeno porte, a Telos está classificada numa faixa de negócios com receita bruta entre R$ 360 mil e R$ 3,6 milhões ao ano. Os pagamentos de R$ 631 mil para LILS, em 2011, chamaram a atenção.
"Considerando o enquadramento da empresa Telos e a ordem de grandeza dos valores pagos para à empresa LILS, comparado à faixa de faturamento bruto determinado pela lei", os peritos da Lava Jato recomendaram a quebra dos sigilos fiscal e bancário da suposta "laranja".