BRASIL - O operador financeiro Lúcio Funaro
afirmou em depoimento à Procuradoria-Geral da República que repassou R$ 1
milhão para o ex-deputado Eduardo Cunha "comprar" votos a favor do
impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.
Funaro disse que recebeu uma mensagem de
Cunha, então presidente da Câmara, dias antes da votação no plenário, ocorrida
em 17 de abril.
"Ele me pergunta se eu tinha
disponibilidade de dinheiro, que ele pudesse ter algum recurso disponível pra
comprar algum voto ali favorável ao impeachment da Dilma. E eu falei que ele
podia contar com até R$ 1 milhão e que eu liquidaria isso para ele em duas
semanas no máximo", disse.
A Folha de S.Paulo teve acesso ao depoimento
prestado por Funaro à PGR em agosto deste ano. Seu acordo de delação foi
homologado pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal).
No depoimento, uma procuradora questiona:
"Ele (Cunha) falou expressamente comprar votos?". Funaro respondeu:
"Comprar votos".
Funaro diz que Cunha pediu dinheiro para
impeachment
O delator disse que o valor de R$ 1 milhão
acabou sendo repassado. "Consolidou esse valor?", perguntou a PGR.
"Consolidei o valor", disse o operador, preso na Papuda.
"Depois de uma semana de aprovado o
impeachment, comecei a enviar dinheiro para ele (Cunha) ir pagando os
compromissos que ele tinha assumido", disse Funaro. Segundo ele, o
dinheiro foi entregue em Brasília, Rio e São Paulo.
O delator deu como exemplo de deputado
"comprado" o nome de Aníbal Gomes (PMDB-CE), que acabou faltando à
sessão de votação do impeachment.
"Tem um caso até hilário, mas um dos
deputados que ele (Cunha) comprou e pagou antecipado, pelo que ele me disse,
foi o Aníbal Gomes. Ele disse que tinha pago para o Anibal Gomes R$ 200 mil
para o Anibal Gomes votar favorável ao impeachment. O que aconteceu? O Anibal
Gomes não veio no dia da votação, faltou", afirmou Funaro. "Aí ele
(Cunha) ficou louco (...). O cara deu a volta nele", disse o delator.
Procurado pela reportagem, Aníbal Gomes
afirmou que as declarações de Funaro são "uma mentira deslavada". O
deputado disse que não conhece o operador e que "nunca recebeu dinheiro de
Eduardo Cunha". Aníbal afirmou que faltou na votação do impeachment porque
estava em São Paulo, "operado da coluna".
A Câmara aprovou a instauração do processo de
impeachment com 367 votos favoráveis. O Senado acabou condenando a petista, que
deixou o cargo no segundo semestre do ano passado.
CUNHA
Em nota divulgada neste sábado (14), Eduardo
Cunha, que também está preso, rebateu a delação de Funaro, de quem era aliado.
"Repudio com veemência o conteúdo e se
trata de mais uma delação sem provas que visa a corroborar outras delações
também sem provas, onde o delator relata fatos que inclusive não
participou", afirma Cunha. "As atividades criminosas confessadas pelo
sr. Lucio Funaro foram feitas por sua conta e risco."
Cunha também afirma ser uma "absoluta
mentira" as referências de Funaro a outros políticos, como Temer.
"Desminto e desafio a provar as supostas referências sobre terceiros a mim
atribuídas, incluindo ao presidente Michel Temer, onde tudo que ele atribui
declara que ouviu dizer de mim, o que é uma absoluta mentira." Com informações
da Folhapress.