A campanha desesperada
de Geraldo Alckmin (PSDB) elegeu como desafio central nos 26 dias que antecedem
o início do horário eleitoral gratuito a formulação de uma estratégia para
roubar eleitores do Mito da Direita, Jair Bolsonaro (PSL).
Segundo a mais recente
pesquisa Datafolha, de junho, o deputado lidera a corrida ao Planalto em
cenários sem Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 19% das intenções de voto -o
tucano oscila entre 6% e 7%.
O campo de batalha
neste momento se baseia nos desenvolvimentos após a eleição de 2014, que
basicamente dividiu o país entre os chamados azuis (do centro à direita,
personificados então no PSDB) e os vermelhos (a mão inversa, à esquerda,
dominada pelo PT).
No lado azul, o PSDB
perdeu espaço para Bolsonaro, fenômeno associado à rejeição da direita ao
establishment que ganhou corpo durante o impeachment de Dilma Rousseff (PT),
mas que tem origens rastreáveis nos protestos de junho de 2013.
Como diz um membro da
cúpula tucana, é inútil buscar votos do lado vermelho do quadro no primeiro
turno.
Para os tucanos, o
eleitor radicalizado à direita é que precisa ser recuperado -pesquisas à disposição
das campanhas calculam em um terço os bolsonaristas que têm Alckmin como
segunda opção.
O problema é a forma de
abordagem. Atacar diretamente Bolsonaro, como a esquerda faz, apenas aliena
esse eleitorado, que obviamente não gosta de ser chamado de "fascista"
ou "burro".
Serão testadas táticas
de comunicação pinçando pontualmente os pontos nevrálgicos da imagem do
deputado.
A campanha de Bolsonaro
sabe que suas altercações com mulheres são hoje um calcanhar de Aquiles maior
do que, por exemplo, sua defesa da ditadura militar. Tanto é assim que ele fez
seu primeiro discurso como candidato falando sobre a importância do eleitorado
feminino.
A depender do efeito
sobre apoiadores de Bolsonaro, os temas podem ser inseridos na campanha.
Um dos principais nomes
ouvidos pelo PSDB quando o assunto é eleição tem dúvidas sobre essa forma de
agir. Ele considera mais importante apontar o que os tucanos consideram
inconsistências práticas do deputado e apresentar Alckmin como a contraposição
lógica a elas.
Não será fácil, prevê
esse guru político. Bolsonaro tem apresentado vacinas simples para acusações
com grau de sofisticação maior, como a ausência de apoio parlamentar que terá
caso eleito ou pontos de seu programa econômico.
Transformou a primeira
em ativo eleitoral, negando ser "igual aos outros". E terceirizou a
segunda para seu mentor, o economista Paulo Guedes, que segue entusiasmando o
mercado, como provou a reação da plateia em um encontro para 130 pessoas no
banco BTG na quinta (2).
A alocação da senadora
Ana Amélia (PP-RS) na vice do tucano também sinaliza uma disposição mais
combativa de Alckmin, já que garante o tempero antipetista à chapa e
restabelece pontes com o agronegócio e a região Sul, que o PSDB perdeu para
Bolsonaro e para Álvaro Dias (Podemos), um integrante minoritário do campo
azul.
Para um membro da
cúpula tucana, contudo, isso é mais simbólico. Ele aponta a adesão do centrão
(DEM, PP, PR, PRB e SDD) à campanha tucana como o mais importante marco da
jornada de Alckmin até aqui, por agregar o latifúndio de tempo de TV em que o
discurso será apresentado.
O tucanato tem dúvidas
também sobre a possibilidade de atração do voto hoje branco ou nulo.
Segundo o Datafolha
aferiu em junho, essa fatia do eleitorado sobe 11 pontos percentuais sem o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no páreo, para 28%. Parece difícil que
o PSDB consiga pescar nesse rio que corre mais à esquerda.
Já os indecisos somam,
segundo o Datafolha, uma faixa estável entre 4% e 6% a depender do cenário
apresentado.
Naturalmente, Bolsonaro
não é o foco único.
A campanha de Alckmin,
ciente da fama de "picolé de chuchu" do candidato, pretende vendê-lo
como um realizador experimentado com histórico a mostrar –obras, as contas
públicas relativamente em ordem e a queda no número de homicídios em São Paulo
deverão estrelar o horário eleitoral.
A partir daí, tentar
convencer o eleitor que isso é suficiente para acelerar a recuperação da
economia, e que o apoio de partidos enrolados com escândalos recentes é
garantia de que terá musculatura congressual para aprovar medidas importantes
antes de ser um ônus.
Hoje, a campanha
compartilha a avaliação generalizada de que Lula será considerado inelegível,
mas que Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) tenderão a ser engolidos à
esquerda pelo nome indicado pelo ex-presidente.
Daí o foco inicial em
Bolsonaro, adversário direto pela vaga azul no segundo turno. Daí em diante, o
jogo será completamente distinto. Com informações da Folhapress.