BRASIL - Nos próximos dias, Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) Nacional encaminha ao Senado um requerimento pedindo
o afastamento imediato do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), enquanto durarem
as investigações por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa.
O presidente da OAB,
Claudio Lamachia, disse que a entidade não faz juízo de valor quanto à
culpabilidade do petista à medida que o processo que investiga o senador não
está concluído. “Ao se manter no cargo, o senador debocha dos cidadãos, inclusive
com poder para interferir no andamento do processo”, criticou o presidente da
OAB.
Na avaliação do relator
do processo no Conselho Federal da OAB, André Godinho, autor do voto que
originou o pedido para que Delcídio tenha o mandato suspenso, a gravidade dos
casos relatados sobre o senador desgasta a imagem não só do parlamentar, mas
também do Congresso. “É perigoso que um processo com provas tão evidentes se
desenrole no Conselho de Ética com o parlamentar ainda no cargo. Pediremos a
suspensão cautelar do mandato enquanto houver investigações”, justificou.
O advogado baseia o
pedido na Constituição Federal e no Código de Processo Penal. A Carta Magna, no
art. 55, prevê que “perderá o cargo o deputado ou senador cujo procedimento for
declarado incompatível com o decoro parlamentar”. Já o art. 319 enumera as
medidas cautelares diversas da prisão, sendo uma delas a “suspensão do
exercício de função pública quando houver justo receio de sua utilização para a
prática de infrações penais”.
Este mês a OAB também
pediu ao Conselho de Ética da Câmara o afastamento do presidente da Casa,
Eduardo Cunha (PMDB- RJ), para facilitar a investigação de denúncias contra o
deputado no colegiado.
Efeito político
Segundo a assessoria
técnica da Secretaria-Geral da Mesa do Senado, o ofício que deve ser entregue
ao presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), aos líderes de partidos e ao
Conselho de Ética, tem apenas efeitos políticos. Na prática, não há previsão no
regimento da Casa para que o pedido da OAB tenha qualquer tramitação.
Sem pressa
Apesar da pressão que a
OAB pretende fazer com o pedido, um dia após o anúncio da Ordem, na
quarta-feira (24), Renan Calheiros sinalizou que o processo contra o petista
deve ser analisado sem pressa pelo colegiado. Ele defendeu que o julgamento no
Conselho de Ética não ocorra antes de um posicionamento do Supremo Tribunal
Federal (STF) sobre o caso.
"A lógica que o
Conselho de Ética terá de estabelecer, e não há como fazer diferente, é ver
como o processo político leva em conta o que está acontecendo no processo
judicial. O Conselho de Ética não tem como inverter o processo e fazer logo um
julgamento político sem saber o que está acontecendo no processo judicial”,
disse Renan.
O Conselho de Ética
sorteia na próxima quarta-feira (2) um novo relator para o caso. O senador
Ataídes Oliveira (PSDB-TO) deixou a função depois que o colegiado acatou o
pedido dos advogados de Delcídio, que questionaram a isenção do parlamentar, já
que o PSDB apoiou a abertura de processo pedida pelo Rede e PPS.
Assim que o novo
escolhido receber formalmente a defesa prévia, já entregue pelo senador
investigado, será aberto um prazo de cinco dias úteis para a apresentação do
relatório preliminar. A partir daí, o Conselho de Ética também terá mais cinco
dias úteis para analisar o mérito da representação. Os senadores vão decidir se
há indícios de prática que possa resultar em punição e até na perda do mandato
de Delcídio.
O ex-líder do governo no
Senado apresentou atestado médico de15 dias e deve retornar ao trabalho no dia
8 de março.