BRASIL - A adolescente de 16 anos que teve
imagens publicadas nas redes sociais depois de ser vítima de estupro coletivo
disse nesta quinta-feira (26) em depoimento a policiais da Delegacia de
Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), da Polícia Civil do Rio, que foi
atacada por 33 homens armados de fuzis e pistolas. Ela contou que, no último
sábado (21) fora visitar o namorado no morro do Barão, na Praça Seca, zona
oeste carioca, e só lembra de ter acordado, no dia seguinte, “dopada e nua”, em
uma casa desconhecida, cercada pelos agressores.
Imagem do suspeito de divulgar o videio na internet - site: http://extra.globo.com/
De acordo com os
investigadores, três homens envolvidos no crime já foram identificados e terão
a prisão preventiva pedida pela polícia em breve. Dois deles publicaram as
imagens na internet. O terceiro aparece no vídeo divulgado nas redes sociais.
Os nomes dos acusados não foram divulgados.
No depoimento à Polícia Civil, reproduzido no
site da revista Veja, a vítima contou que, depois de acordar, vestiu roupas
masculinas e pegou um táxi para casa, no bairro da Taquara, também na zona
oeste. A jovem é mãe de um menino de 3 anos.
Ainda de acordo
com o depoimento, ela soube, na terça-feira passada, que um vídeo com imagens
suas depois do estupro havia sido divulgado nas redes sociais e em sites de
relacionamento. Nesse mesmo dia, segundo as informações prestadas à polícia,
ela voltou à favela e cobrou do chefe da quadrilha dos traficantes de drogas,
não identificado, que devolvesse seu celular, possivelmente furtado no dia do
estupro coletivo.
Segundo a jovem, o traficante disse não ter
encontrado o celular, mas prometeu ressarcir-lhe o prejuízo. Disse também que
se informaria sobre o estupro. A jovem identificou o namorado apenas como
Petão, de 19 anos, que conheceu no colégio onde ambos estudam. A vítima disse
que se relaciona com Petão há três anos. Ela afirmou que costumava usar
ecstasy, lança-perfume e cheirinho da loló, mas que há um mês não se drogava.
No depoimento, a
adolescente disse que está “profundamente abalada” e que, desde que foi
estuprada, tem sentido muitas dores internas. Na manhã de quinta-feira (26),
ela foi submetida a exames no setor de ginecologia de uma maternidade da rede
municipal de saúde. “Quando acordei tinham 33 caras em cima de mim. Só quero ir
para casa”, disse ela ao sair do hospital, em declaração reproduzida no site do
jornal O Globo.
Antes do exame médico, ela prestou depoimento e foi
periciada no Instituto Médico-Legal (IML). O pai, que a acompanhou na perícia,
disse que, ao chegar em casa no domingo, encontrou a filha “gemendo de dor”.
Em entrevista à rádio CBN, a avó afirmou ter ficado
chocada com o vídeo, em que um dos homens faz menção a mais de 30 estupradores
e afirma: “Essa aqui, mais de 30, engravidou”. “O vídeo é chocante, eu assisti,
ela está completamente desligada”, disse a avó.
Segundo ela, a neta tem o hábito de passar alguns
dias sem dar notícias, mas que a família nunca soube que tenha sofrido abusos
sexuais. A avó levantou a suspeita de que o estupro coletivo tenha sido
“vingança” do namorado, que teria suspeitado de uma traição da garota. Os nomes
da jovem e de seus parentes são mantidos em sigilo pela polícia.
Investigação
A publicação e o
compartilhamento do vídeo da vítima depois do estupro causaram indignação entre
internautas, que pediram que ninguém mais divulgasse o vídeo. As imagens
mostram o órgão genital da jovem e a narração do responsável pela publicação:
“Olha como tá (sic). Sangrando. Olha onde o trem passou. Onde o trem bala
passou a marreta”.
Um dos responsáveis pela publicação no Twitter,
identificado como Michel, escreveu: “Amassaram a mina, intendeu (sic) ou não
intendeu (sic) kkkkk”. Foi publicada também uma fotografia de um dos homens
diante do corpo da jovem deitado em uma cama.
O caso também é investigado pelo Ministério Público
do Rio de Janeiro (MP-RJ), que recebeu uma denúncia anônima do estupro coletivo
e da divulgação das imagens nas redes sociais. Segundo o MP-RJ, cerca de 800
comunicações do caso foram feitas à Ouvidoria. A promotoria pediu que agora
sejam encaminhadas apenas denúncias que tenham informações novas sobre o caso.
Barbárie
A Ordem dos
Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ) classificou o caso como
“barbárie”. “Os atos repulsivos demonstram, lamentavelmente, a cultura machista
que ainda existe, em pleno século 21”, diz a entidade em nota. “Um estupro
coletivo, com requintes de crueldade, no qual vários indivíduos perpetuaram a
humilhação expondo, nas redes sociais, a dor da vítima”, afirma a entidade.
A OAB-RJ atenta ainda para o fato de que, para cada
caso público de estupro, tantos outros permanecem ocultos, sem repercussão.
“Precisamos lutar contra a violência em cada lar, em cada comunidade, em cada
bairro. A revolta e a mobilização são claros indícios de que a indignação
social se faz fortemente presente”, diz a nota.
Diante do ocorrido, a OAB-RJ afirma que frases
machistas, piadas sexistas e propagandas que tornam a mulher um objeto sexual
devem ser combatidas, “sob o risco de se tornarem potenciais incentivadoras de
comportamentos perversos”. A entidade está oferecendo assistência jurídica à
família e afirma esperar que a lei prevaleça na punição aos responsáveis.
Fonte: gazeta do povo
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